Tarde Sombria


“O amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direção.” 
O pequeno príncipe - Antoine de Saint-Exupéry


Prólogo
Subi as escadas e fui até o quarto que um dia fora do meu pai. Era meu lugar favorito naquela casa. Sentei-me na enorme cama e fiquei olhando a lua através das grandes portas de vidro. Não sei quando foi que me deitei nas cama, mas só sei que dormi ali.
Eu tinha certeza de que estava sonhando. Eu estava na campina, que estava coberta de flores amarelas e roxas. Eu usava um vestido longo, branco, quase transparente, que flutuava por cima das flores conforme eu andava descalça. Deitei-me sobre as flores até que braços conhecidos e confortáveis me tomaram no colo. Era Jake. Ela também estava de branco. Ele me colocou  em seu colo, tirou meus cabelos do rosto, seu rosto cada vez mais próximo do meu, até que eu percebi que ele não ia parar. Seus lábios estavam quase tocando os meus quando eu acordei ofegante.
Não estava nos meus planos ter um sonho como aquele. Sentei-me na cama quando minha tia apareceu saltitante na porta.



1. Mudanças



Nada fazia sentido naquele sonho. Era confuso demais. Eu estava em um lugar familiar, a campina que fica perto de casa, mas essa era a única coisa que eu reconhecia ali. Ela não estava ensolarada ou nublada como de costume. Uma névoa espessa e cinzenta cobria o céu. Avistei um vulto ao longe se aproximando com rapidez e muita elegância. Ele parou em frente a mim e eu pude ver quem era: Aro. Ele sorria.
– Você demorou minha querida. Pensei que não ia deixar vermos o que sobrou deles – disse ele – mas vejo que fez um bom trabalho ‒ ele apontou para baixo. E então eu vi do que ele estava falando. Vi que havia um isqueiro de prata em minhas mãos e uma pilha de corpos, queimando, ali na minha frente. Meus pais, avós, tios. Minha família.
Acordei aos gritos. Minha mãe apareceu na minha porta.
– O que aconteceu meu bem? ‒ disse ela angustiada enquanto me tomava nos braços ‒ está tudo bem, tudo bem Nessie! ‒ e então eu percebi que eu estava chorando ‒ o que aconteceu?
– Eles... Eu... Mortos... ‒ nada do que eu dizia fazia sentido por causa do choro.
– Calma! Porque não me mostra? ‒ fiz o que ela pediu. Mostrei o sonho horrível e antes que tivesse a oportunidade de respirar eu estava chorando novamente.
– Eles não vão nos incomodar, meu amor. Nunca mais, eu prometo. – ela entoava para que eu me acalmasse.
Depois de alguns minutos eu parei de chorar. Minha mãe mandou que eu fosse tomar um banho para refrescar a cabeça. Obedeci.
Entrei no banheiro. Enquanto me despia olhei de relance para o espelho de corpo inteiro que fica atrás da porta do banheiro e percebi algo de diferente. Voltei o olhar para o espelho novamente. Não tinha a mesma aparência do dia anterior. Eu não parecia mais uma garota de treze anos que ontem mesmo havia saído para tomar sorvete com seu melhor amigo. Eu tinha a aparência de uma jovem de uns quinze, talvez dezesseis anos.
Meu quadril estava mais arredondado e maior, e minha cintura muito mais fina, o que me deixava curvilínea. Os seios não eram grandes, mas mesmo assim notava-se uma leve diferença. Sorri.
Tomei meu banho e fui ao closet a fim de encontrar alguma coisa que servisse no meu novo corpo. Acabei com um vestido de chiffon azul bebê.
Respirei fundo. Era a hora do café.
– Ai meu Deus! - disse minha mãe quase deixando a bandeja que tinha nas mãos cair - Edward! Edward! Venha ver! - ela disse me abraçando – Ai meu Deus, Nessie como está linda!
– Nessie, é você?! – disse meu pai me levantando e girando no ar – Meu Deus! Estou me sentindo com cento e onze anos agora - ele fez uma careta. Eu ri. Ele realmente tinha cento e onze anos – vamos! Temos que mostrar isso a Carlisle.
– Não sei como não percebi quando fui ao seu quarto! - disse minha mãe.
Chegando à casa de meus avós, os cinco vampiros me encararam de uma forma que me deixou meio constrangida. Tio Emmett foi o primeiro a se manifestar:
– Meu Deus, Nessie! Aliás, se for a Nessie mesmo. Pensava que você ia chegar aqui uma pirralha e você me aparece uma gata! - ele me deu um abraço super apertado.
E mais diversos abraços e comentários se seguiram até que ouvi o barulho que eu mais desejava naquele momento. O carro do meu melhor amigo parando em frente à casa. O carro de Jacob.
Saí dos abraços frios e conhecidos da minha família e fui correndo ao encontro do abraço quente de Jake. Ele me olhou de cima abaixo.
– Nessie? Quer dizer e-eu n-não esperava... - ele gaguejou.
– Acho que ninguém esperava – disse meu pai enquanto se aproximava de nós.
– Bom... Eu vim buscá-la para ir até a reserva. Tem algum problema? É que Emily e as outras garotas gostariam muito de revê-la então... ‒ ele falava as palavras com dificuldade sem tirar os olhos do chão. Claramente nervoso.
– Eu posso ir, não é pai? ‒ eu disse olhando para Jake e em seguida lançando um olhar terno para meu pai – Eu estou morrendo de saudades da reserva – fiz beicinho. Funcionou.
– Tudo bem – ele disse isso a mim com um sorriso e depois se voltou a Jake – mas quero que ela esteja aqui antes das seis.
– C-claro. Vamos? – dessa vez ele olhou pra mim.
Assenti.
Foi uma viagem silenciosa. De vez em quando ele me olhava e depois de me ver corar ele voltava o rosto para a estrada e resmungava algo ininteligível. Eu ri em uma das vezes que ele fez isso e ele quase saiu da estrada. Por sorte já estávamos na reserva.
Paramos em frente a casa dele. Ele abriu a porta para mim, o rosto sempre virado para o chão evitando olhar para mim, e antes que ele entrasse na casa eu segurei seu braço fazendo ele se virar para me olhar.
– Qual é o seu problema? – eu disse séria e friamente – desde que me viu lá em casa está assim, catatônico.
– Nada Nessie. É só que foi tão inesperado e você está tão... tão... li... diferente – eu corei. Toquei seu rosto e mostrei-lhe o que estava pensando. Pensava no motivo dele não me olhar nos olhos enquanto falava comigo.
– Eu continuo olhando em seus olhos – disse ele forçando o rosto a me olhar.
– Não está fazendo isso direito – eu disse realmente aborrecida. E então algo que eu não esperava aconteceu. Ele me tomou em um abraço e depois segurou meu rosto e me olhou profundamente nos olhos – satisfeita? ‒ disse ele enquanto continuava a me olhar. Senti meu sangue fluir todo para meu rosto de uma forma diferente do normal. Eu não costumava fazer aquilo.
– Muito – minha voz saiu nervosa. Não era pra ter saído assim. Ótimo! Agora era eu que estava ficando abobada.
Ele me soltou e entramos.
– Nessie! Como você está grande... E bonita – disse Billy ao me ver. Corei levemente. Demonstrar minhas emoções através das minhas bochechas era uma característica que eu havia herdado de minha mãe, o que não era nada agradável em alguns momentos, mas Jake sempre sorria quando isso acontecia. Virei-me para olhá-lo e ele não estava sorrindo. Aliás ele nem olhava para mim, apenas para o chão. Eu já estava meio aborrecida com Jacob, mas aquela fora a gota d’água.
– Droga Jake! – eu gritei – me desculpe Billy, mas acho que preciso ver as garotas – a voz mais baixa, mas áspera ‒ até mais – sai batendo o pé. Jake saiu também.
 – Agora eu é que te pergunto, qual é o seu problema?
– Você Jake! Você é o meu problema! – eu gritava – eu só cresci ok?! Não sou outra pessoa – Percebi que as lágrimas de raiva rolavam pelo meu rosto, outra coisa herdada de minha mãe.
– Eu? O que eu fiz?! – ele também gritava, mas de forma angustiada.
– Nada! É esse o problema! Você tem agido estranho desde hoje cedo!
Ele baixou o olhar. Ficamos em silêncio por um tempo até que ele falou:
– Desculpa. É que é tudo muito novo para mim. Mas acho que eu não tinha motivo para agir como um bobo só por causa disso.
Suspirei ‒ Não Jake. Eu é que fui fria demais. Desculpe-me.
Ele abriu o sorriso mais lindo do mundo e me deu um beijo na cabeça. Era estranho, mas eu nunca tinha visto Jacob ficar bravo comigo por muito tempo.
– Vem, vamos ver o pessoal. Acho que temos que esfriar um pouco a cabeça – ele sorriu novamente. Eu sorri também.
Passamos a tarde na casa de Emily. Na volta para casa ele colocou o meu CD favorito e nós começamos a cantar como de costume. Parecia que as coisas estavam voltando ao normal.
Ele se despediu de mim e se foi. Entrei em casa e fui direto pra cama. Apaguei totalmente. Mas isso não impediu os sonhos.

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2. Visita


 O mesmo sonho da noite anterior. Mas pelo menos consegui acordar antes da parte que me fazia gritar. Procurei por meus pais. Ninguém em casa. Que ótimo. Eu precisava falar com alguém, afinal aquele sonho me deixava angustiada. Resolvi ligar para Jake, apesar de já passar das duas da manhã.
– Alô – atendeu ele com uma voz de sono.
– É... Oi Jake. É Nessie.
– Ah! Oi Nessie! Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou imediatamente preocupado.
– Não é nada de mais – disse tranquilizando-o ‒ é que eu acabei de ter um pesadelo horrível e precisava de conforto.
– E seus pais? Onde estão? – perguntou ele desconfiado.
– Sei lá – suspirei. – acho que não devia ter ligado. Desculpa por ter incomodado. Tchau.
– Não espera. Estou indo pra sua casa. Chego dentro de cinco minutos.
Parei de respirar. Ele estava vindo pra cá agora?
– Jake, é melhor não. Quer dizer não que eu não queira que você venha, mas...
– Tenho que desligar. Tchau – o telefone ficou mudo.
E agora? O que eu ia fazer? Corri para o banheiro a fim de dar um jeito no meu cabelo e escovar os dentes. Mal terminei ouvi alguém bater na porta. Corri para a porta e abri.  Era Jake.
Ele entrou e nos sentamos na cadeira da cozinha, um de frente para o outro. Ficamos calados sem saber o que fazer ou dizer por um tempo, até que eu o convidei para jogar xadrez, paixão que eu herdara do meu pai. Ele aceitou e ficamos jogando por um bom tempo. Eu venci, como sempre.
Quando a partida acabou, o sol já estava quase nascendo. Não havíamos tido nenhuma notícia de meus pais até então. Eu estava ficando preocupada. Resolvi ligar para a casa dos meus avós. Ninguém atendeu. Esperei mais um pouco com Jake, mas ele teve que ir embora. Liguei novamente, e dessa vez Carlisle atendeu.
– Residência dos Cullen – disse ele em tom formal.
– Vovô... É Nessie. Liguei pra saber se meus pais estão aí.
– Ah! Oi Nessie. Estão sim. Chegaram pela madrugada depois de uma viagem de caça.
– Ah! Tudo bem então – estranho. Eles sempre voltavam direto pra casa ou me deixavam na casa de meus avós quando saiam para caçar ‒ Por que ninguém atendeu quando eu liguei mais cedo?
– Seus pais saíram pela manhã para dar uma volta, e eu e sua avó estávamos resolvendo alguns problemas e não percebemos quando o telefone tocou.
– Mas eles já estão aí, não é?
– Estavam. Assim que souberam que era você no telefone, eles foram pra casa. Devem estar chegando.
– Tudo bem então vovô. Tchau.
– Até mais, meu anjo.
Assim que eu desliguei o telefone segui para a cozinha para preparar o café. Mal tinha começado a fritar as omeletes, quando ouvi um barulho vindo do quarto de meus pais. Fui ver o que era. Eram eles. Tinham entrado pela porta de vidro do quarto deles. Minha mãe me deu um beijo e quis saber como eu havia passado a noite.
– Não muito bem. Tive aquele mesmo sonho da noite passada então...
Ela me tomou em um abraço apertado.
– Oh, meu bem, é uma pena que sua noite não tenha sido boa. Espero que esses sonhos parem de te incomodar logo. – disse ela preocupada beijando minha cabeça enquanto meu pai terminava de preparar meu café.
– Não se preocupe mãe. Eu estou bem. De verdade. Até porque eu e Jake nos divertimos bastante jogando xadrez e acho que isso me fez esquecer um pouco...
– Jacob esteve aqui?! À noite?! – dessa vez era meu pai quem falava. Ou melhor, gritava.
– É. Eu liguei pra ele depois que acordei e ele resolveu vir pra checar se eu estava bem. Nós ficamos jogando xadrez pra passar o tempo, uma vez que vocês não apareciam – disse com inocência. Não entendia o porquê daquele ataque do meu pai.
– Claro Nessie. Seu pai sabe disso – disse mamãe encarando meu pai com um ar de reprovação.
– Jake disse que voltaria para irmos a La Push. Não tem problema, não é pai?
– Não meu amor. Pode ir – ele disse meio envergonhado com a situação que havia causado anteriormente.
Assim que ele disse isso ouve uma batida na porta. Era Jake.
– Oi – disse ele – pronta para ir a praia? – perguntou ele.
– Com certeza – disse sorrindo. E depois disse mais alto – mãe, pai já vou indo. Vejo vocês mais tarde.
E nós fomos pra praia. Fazia sol, mas mesmo assim estava frio, então apenas os lobos entraram na água. Eu fiquei sentada com Kim, Emily e a pequena Claire que, apesar de ser três anos mais velha que eu, ainda parecia uma criança enquanto eu, com meus seis anos, aparentava dez anos a mais.
Depois de algum tempo Jake veio e se sentou do meu lado.
– Nessie, quer ir caçar? – perguntou ele sabendo que eu não havia caçado no dia anterior.
– É acho que tenho que ir caçar – disse sorrindo.
– Vem, podemos caçar próximo ao rio assim ficamos longe da reserva e perto da sua casa. O que acha?
– Perfeito. Vamos – disse segurando sua mão.

3. Deja vú


Chegamos próximo ao rio. Eu conseguia sentir o cheiro de alguns alces. Não eram meus favoritos, mas com a sede que eu estava não importava se eram apetitosos ou não. Desde que fizessem aquilo passar já estava bom.
Jake derrubou um e eu outro, mas Jake cedeu o dele para que eu me alimentasse. Depois de drenar os dois alces, eu me sentei com Jake na beira do rio para conversar.
– Foi bem divertido – eu disse quebrando o silêncio.
– Foi... – ele se calou por um instante – mas e agora o que você quer fazer?
– Sei lá – disse pensativa até que uma pergunta, saída de Deus sabe onde, me ocorreu – Jake porque você não namora? Quer dizer, desde que eu me entendo por gente você passa o seu dia dando atenção pra mim e eu nunca te vi com outra garota... – aquela última frase me causou uma reação diferente do normal. Pensar em Jacob com outra garota não me agradou em nada.
– Porque está perguntando isso?
– Você não respondeu minha pergunta – respondi séria, fugindo dos meus pensamentos.
– Nunca me interessei por alguém que realmente valesse a pena – disse ele olhando o horizonte e depois sorrindo para mim – mas vamos garotinha antes que fique tarde - disse ele me levantando no ar, o que me fez rir.
– Não sou mais uma garotinha - eu disse fingindo estar brava.
– Eu sei – disse ele pensativo como se eu não tivesse feito uma brincadeira.





Chegamos em casa. Jake encarou meu pai por um tempo até que ele o chamou para conversar lá fora. Fui até a janela para ver o que estava acontecendo. A conversa foi mental por parte de Jacob enquanto meu pai apenas respondia. Meu pai assentiu uma última vez e Jake se foi.



Meu pai entrou em casa sério e lançou um olhar para minha mãe como se precisasse conversar com ela.

– Onde está Jake? – perguntei ao meu pai.

– Foi pra casa – respondeu ele friamente.

– Sem se despedir de mim? – puxa que estranho.

– Ele deve ter esquecido meu anjo – minha mãe respondeu meio sem jeito.

– Bom, deixa pra lá – disse triste por não ter me despedido de Jake.

Fui para o meu quarto, coloquei meu pijama e depois deitei na cama pensando em Jake. Até que me lembrei que meus pais provavelmente iriam conversar sobre a conversa de meu pai e Jacob. Comecei a dispersar meus pensamentos para diversas coisas bobas e fui até a porta do quarto deles.

– Mas ele não pode fazer isso, pode? – perguntou minha mãe. Droga. Tinha perdido uma parte da conversa.

– Nós decidimos que seria melhor para Nessie – respondeu meu pai.

– Não, não vai Edward. Ela vai sofrer. Eu sei – sabia como minha mãe ficava quando falava assim e não era nada bom – vai cometer o mesmo erro duas vezes Edward?! – agora ela gritava.

– Bella sabe que é necessário – ele disse angustiado.

– Não é e você sabe disso! Eu não vou apoiar essa decisão. Nunca! – disse ela saindo do quarto.

Sofrer, necessário, do que eles estavam falando? Só se... Não podia ser. Conhecia aquela história. “Seu pai se foi e me deixou sozinha, porque ele pensava ser necessário para minha segurança. Eu sofri muito e ele também.” as palavras de minha mãe inundaram minha mente. Senti como se o chão houvesse sido aberto sob meus pés e eu estivesse caindo em um abismo. As lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto eu via o nada. Senti uma dor muito grande e tudo ficou escuro de repente. Desmaiei.

– Ela deve estar acordando – alguém disse.

– Calma Bella, ela vai ficar bem – outra pessoa consolava minha mãe.

Não queria acordar. Queria ficar ali e fingir que aquilo era um sonho. Mas eu não tinha escolha. Abri os olhos.

– Ah! Graças à Deus! Você está bem, meu amor?- perguntou minha mãe ternamente.

Não respondi. Levantei-me apesar dos protestos e caminhei até a porta da casa. Desci as escadas e segui para o chalé onde voltei a me deitar na cama. E o pensamento que eu queria que não estivesse ali me veio a cabeça. Jacob indo embora, me deixando. E o choro irracional recomeçou. Adormeci.

Acordei no dia seguinte me sentindo péssima. Tomei um banho e ao invés de vestir algo que agradasse tia Alice eu vesti algo confortável. Jeans, uma camiseta preta e tênis. Fui tomar café. Não respondi a nada do que meus pais diziam, eu mal prestava atenção. Apenas terminei de comer e voltei para meu quarto. Sentei-me em frente a janela e fiquei ali a manhã inteira apenas deixando minha mente vagar. Até que peguei no sono novamente. Sonhei.

Em meu sonho eu estava em uma floresta escura e Jacob estava de frente para mim. Ele me olhava sério.

– Vai ser como se eu nunca tivesse existido – conhecia aquela frase. Meu pai dissera isso para minha mãe quando ele a abandonara tempos antes de eu nascer.

– Você não pode me deixar! - eu gritava.

Ele beijou minha cabeça e se foi. Eu fiquei totalmente sozinha na floresta. O desespero me tomou por completo. Eu estava perdida e sem Jacob. Sem nada.

Aquilo era tão errado, aquele sonho não era meu, aquela lembrança não era minha. Não fazia sentido. Mas mesmo assim doía.

Acordei aos gritos. Já era noite e chovia lá fora.

– O que aconteceu Nessie? – perguntou minha mãe na porta. Quando ela disse isso eu já havia levantado da cadeira e pego minha bolsa. Saí na chuva.

– Aonde você vai agora com essa chuva Nessie? – perguntou minha mãe.

– Encontrar Jake – respondi.

– Como? – perguntou ela.

– De carro – apesar de ter apenas seis anos eu já sabia dirigir. O problema é que para minha família eu era nova demais para isso. Agora eu já aparentava ter dezesseis anos então ninguém iria ligar se eu pegasse o carro, não é?

– Renesmee Carlie Cullen você vai é voltar para casa e se secar. Agora! – ordenou ela.

Já era tarde demais. Estávamos na garagem e eu já havia entrado no carro e dado a partida.

– Desculpa mãe, mas eu tenho que fazer isso. Não posso deixar que aconteça o que aconteceu com você – respondi séria, mas com lágrimas nos olhos. Sabia que estava sendo dura com ela dizendo aquilo, mas era necessário.

Ela apenas se afastou do carro e eu saí em disparada para a estrada. Cheguei à um-zero-um antes que eu pudesse contar até dez.

Chegando à reserva, estacionei a Ferrari da minha mãe em frente à casa de Jake. Saí na chuva e corri ensopada até a porta da pequena casa. Bati na porta diversas vezes até que Billy finalmente a abriu.

– Nessie? O que faz aqui? – perguntou ele.

– Vim ver Jacob. E não adianta dizer que ele não está porque eu vou entrar e só vou sair daqui quando encontrá-lo – disse com firmeza.

– Tudo bem – ele disse lentamente enquanto eu entrava.

Corri até o quarto de Jake. Entrei sem nem mesmo bater. Ele estava deitado na cama olhando para o teto e se virou para me olhar. Um sorriso enorme apareceu em seu rosto quando me viu. Ele abriu a boca para falar, mas eu o sufoquei com um abraço.

– Ah Nessie! Minha Nessie! – ele disse tirando meu cabelo molhado do meu rosto.

– Porque fez isso comigo? Eu poderia matá-lo por tentar me deixar, seu cachorro idiota – eu disse sorrindo enquanto as lágrimas caiam dos meus olhos.

– Não tentei deixá-la, só preveni-la – disse ele enquanto enxugava uma lágrima que caía.

– Prevenir-me do que? – eu disse.

– Como chegou aqui? – disse ele fugindo da minha pergunta enquanto me entregava uma toalha dele para que eu me enxugasse.

– Não me respondeu – eu disse aspirando a toalha. Tinha um cheiro maravilhoso.

– Ainda não esta na hora de responder a esta pergunta – ele disse beijando minha cabeça – e, aliás, não me respondeu também.

– Vim de carro – respondi como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

– Como? Com que carro?! – ele perguntou super protetor como sempre.

– Com minhas mãos e pés e com o carro da minha mãe.

– A Ferrari da Bells? Sem nenhum arranhão? – perguntou ele cético.

– Em perfeito estado. Eu juro – sorri.

Ficamos conversando até que Jake percebeu que a chuva não ia passar e resolveu que eu iria dormir na casa dele. Eu usei de todos os argumentos possíveis, mas não adiantou. Ele pegou as coisas dele e foi dormir na sala, cedendo a cama para mim. Antes disso ele estendeu uma camiseta, que provavelmente caberiam duas de mim, para que eu vestisse e tirasse aquela roupa molhada. Colocou o edredom em cima da cama e saiu desejando-me boa noite.

Tirei a roupa molhada e vesti a camiseta. Deitei-me na cama. Tudo ali tinha o cheiro dele e isso me deixava segura. Não foi difícil adormecer.




4. Discussão
Acordei no meio da madrugada, sem sono. Resolvi ir até a cozinha e beber um copo de água, apesar de que isso não faria nenhum efeito em meu corpo. A cozinha da casa de Jake fica ao lado da sala e por isso eu tive que passar por lá. Chegando a sala na ponta dos pés percebi que eu não era a única que ficara se sono. A TV estava ligada enquanto passava um filme conhecido. Jake estava acordado assistindo.

– Perdeu o sono também? – perguntei baixinho.

– É. Acho que sim – respondeu ele sorrindo.

– O que está passando na TV? – perguntei sentando ao seu lado.

– Um filme bobo qualquer, na verdade nem estava prestando atenção.

– Posso ficar aqui com você assistindo? Não acho que meu sono vá voltar tão cedo.

– T-tudo bem – ele gaguejou um pouco. Essas reações de Jake eram estranhas para mim.

Ficamos um bom tempo assistindo. Não sei bem quando adormeci nos braços de Jake, mas só sei que acordei e estava deitada no sofá estreito e Jake estava ao meu lado dormindo. Corei de imediato. E se Billy tivesse visto aquilo? O que ele pensaria?

Tentei tirar o braço de Jacob que estava sobre a minha cintura. Não consegui. Não sem que ele acordasse.

– Nessie? O que aconteceu? Porque está aqui? – ele estava tão confuso quanto eu.

– Não sei. Acho que acabei adormecendo aqui – eu disse levantando-me rapidamente.

Fui até o quarto e coloquei a minha roupa, agora seca de volta. Peguei a minha bolsa.

– Eu tenho que ir, meus pais devem estar preocupados. Vejo você mais tarde? – perguntei a ele.

– É acho que sim. Mas antes eu vou te levar. Não quero que dirija – revirei os olhos – espere aqui eu já volto – disse ele entrando no quarto.

Aproveitei e saí correndo. Entrei no carro e dei a partida. Já ia ser bem difícil dizer para os meus pais que dormi na casa dele que se ele fosse agora só ia piorar as coisas. Saí em disparada.

Cheguei no chalé. Meus pais não estavam em casa, então resolvi seguir para a casa de meus avós. Parei na porta. Sabia que ia levar uma bronca daquelas. Suspirei.

Chegando próximo a casa eu consegui ouvir diversos ruídos que não conseguia distinguir. Resolvi chegar mais perto. Descobri que o que eu havia ouvido era minha família discutindo uma maneira de me encontrar. Tudo bem. Agora eu estava encrencada.

Tentei entrar despercebida enquanto eles discutiam, mas como eu sabia que ia acontecer os oito me olharam de cara amarrada.

– Renesmee Carlie Cullen! Onde você estava até agora mocinha?! - meu pai gritou. Eu odiava quando ele me chamava assim, mocinha, soava tão infantil.

– N-na casa do J-J-J – respirei fundo e soltei de uma vez – Na casa de Jake.

Ouvi todos eles arfarem. Senti o sangue ir todo para a bochecha. Minha mãe foi a única que não ficou espantada, afinal ela já sabia. Eu tinha que agradecê-la depois por não ter contado.

– Mostre-me – ordenou ele em voz baixa.

Mostrei-lhe tudo, cada detalhe, para que ele entendesse que nada de errado havia acontecido. Não queria me afastar de Jake. Não agora. Eu não sabia direito o que estava acontecendo. Sabia que era diferente. Tanto no meu interior quanto no meu exterior. Todas aquelas reações exageradas minhas e de Jake... Mas eu sabia que toda vez que estava com ele eu me sentia bem. Tudo podia acontecer. Menos eu me afastar de Jacob.

Levantei o olhar para olhar nos olhos de meu pai. Ele parecia preocupado com alguma coisa. Ele olhou para minha mãe e ela pareceu confusa. Ele não disse nada, apenas fez um sinal para que todos o seguissem. Menos eu, é claro.

Fiquei ali esperando por uma hora inteira até que todos saíram do escritório do meu avô com cara de funeral. Tentei perguntar do que se tratava e o porquê daquelas caras, mas não obtive resposta.

Meu pai me levou pra casa e mandou que eu fosse dormir. Obedeci mesmo sentindo que havia acontecido algo de ruim. Acordei com a luz do sol em meus olhos. Já passava do meio dia, por isso me levantei rapidamente e vesti algo simples. Tomei o café e depois de encontrar o bilhete de meus pais me dirigi até a casa dos meus avós.

Entrei e me sentei ao lado de minha mãe, que lia um livro. Ela me abraçou e me deu um beijo na cabeça.

– Nessie nós temos uma ótima notícia pra te dar – disse papai. Não parecia pelas expressões que tinham nos rostos – vamos visitar os Denali. Lembra-se deles?

– É claro que lembro – disse. Me lembrava deles quando enfrentamos os Volturi e eles acabaram perdendo Irina. Estremeci com a lembrança – Jake vai também?

– Não Nessie. Ele vai ficar – disse minha mãe friamente.

– É que ele sempre viaja com a gente então pensei que dessa vez...

– Dessa vez ele fica e nós vamos. E não se fala mais nisso – disse meu pai asperamente.

Porque eles ficavam assim quando eu falava de Jake? Só se... Então era isso que eles haviam conversado. Eles queriam me afastar de Jacob de qualquer forma por algum motivo que eu não conseguia entender. Isso me enfureceu de tal forma que quando vi já estava gritando.

– Então vocês acham que porque vocês não querem que eu fique perto de Jake eu vou aceitar isso de boa vontade e tudo vai ficar bem?! – eu gritei em meio as lágrimas de raiva.

– Não é por isso que estamos indo visitar os Denali – disse meu pai nervoso.

– Ah! Mas é claro que não – disse sarcasticamente.

– Renesmee não fale assim comigo! – gritou ele de volta.

– E você quer que eu fale como?! Claro que não é por isso afinal de contas porque eu pensaria em algo do tipo? – disse sendo sarcástica novamente.

– Renesmee! – disse minha mãe repreendendo-me.

– Já chega! – disse meu pai.

– Não! Já chega pra mim! Não vou ficar aqui ouvindo essas mentiras todas que vocês acham que eu vou engolir! – disse levantando-me e correndo o mais rápido que pude para a porta.

Corri para a garagem e peguei o volvo do meu pai saí em disparada. A última coisa que vi foi meu avô segurando meu pai para que ele não me seguisse. Agradeceria a ele depois.



5. Segredos
Chegando à reserva, estacionei o carro e corri para garagem onde Jake passava as tardes quando não estava comigo. Como eu esperava encontrei ele lá trabalhando em uma moto.

– Oi – eu disse meio tímida de repente.

– Oi Nessie – disse ele automaticamente.

– Será que a gente podia conversar? – eu disse baixinho.

– É claro meu anjo – disse ele ternamente levantando-se e vindo se sentar comigo – o que aconteceu?

– Minha família anda tentando... Fazer... Quer dizer... – eu não conseguia dizer. Por algum motivo eu não conseguia.

– Fala Nessie. Pode falar – disse ele incentivando-me.

– Eles não querem que eu te veja mais – eu disse começando a chorar.

– Ei! Não chore. Ninguém vai nos afastar. Eu prometi, lembra? – perguntou ele me tomando nos braços. E era verdade, ele me prometera quando eu ainda era pequena que jamais me deixaria, que eu jamais ficaria só.

Passamos um bom tempo ali abraçados, até que Seth entrou na garagem.

– Jake! Nessie? Eu não sabia que você estava aqui, não queria atrapalhar...

– Ah Seth! Que bom te ver! – eu disse sorrindo.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou Jake preocupado.

– Não, não. Só vim falar um oi. Eu tenho que voltar. Minha mãe está me esperando para irmos jantar na casa de Charlie. Eu já vou indo. Tchau – disse ele meio sem graça.

– Tchau – dissemos em coro.

Foi quando eu percebi que eu não tinha soltado Jake e ele não havia me soltado durante todo aquele tempo. Nossos olhos se encontraram por um momento, nossos rostos se aproximando cada vez mais até que ele desviou o rosto sem graça e eu senti meu rosto corar.

– Acho que já está tarde. Tenho que voltar antes que meus pais fiquem preocupados. Te vejo amanhã não é? – perguntei docemente.

– Mas é claro – disse ele me beijando na testa.

Peguei o carro e fui direto para o chalé. Meus pais não estavam em casa. Aproveitei para tomar um banho e por meu pijama. Esperei um bom tempo, mas eles não apareceram. Decidi me deitar e peguei no sono.

Eu acordei cedo. Era um dia chuvoso como de costume. Meus pais estavam na porta. Provavelmente chegaram lá assim que abri os olhos.

– Posso saber onde a senhorita passou a tarde de ontem? – minha mãe perguntou. Os dois não pareciam bravos, até esboçavam um sorriso.

– Com Jake na reserva – eu disse meio envergonhada, afinal de contas eu não sabia que reação eles teriam.

– Nessie, – meu pai começou – sabemos que ficou chateada com toda aquela conversa de viagem, mas queremos que saiba que só estávamos fazendo aquilo para o seu bem.

– Meu bem?  - perguntei confusa.

– Ainda não é o momento certo para lhe contar, mas logo você vai entender – disse minha mãe.

Eu estava começando a ficar desconfiada. Todo mundo me dizendo que não era o momento certo para uma resposta.

“Por quê? Porque é o momento errado?” perguntei mentalmente ao meu pai.

– Logo você vai entender – repetiu ele baixinho me dando um beijo na bochecha. Balancei a cabeça e revirei os olhos.

Ouvi baterem na porta e antes que eu pudesse me mover minha mãe já havia atendido a porta.

– Oi Bells, a Nessie...

– Ela está lá dentro. Entre – disse minha mãe antes que Jake terminasse.

Ouvi os passos dos dois até que eles adentraram o quarto.

– Jake! – gritei dando um salto e correndo para seus braços.

– Oi Nessie – disse ele me levantando no ar.

– Jacob será que podemos ter uma conversa? – perguntou meu pai seriamente.

– É claro – disse Jake confuso.

Os três se dirigiram para fora da casa onde eu não poderia nem chegar perto por instrução do meu pai, mas que acabei desobedecendo.

Cheguei perto da porta. Não dava para escutar direito. Só consegui escutar o fim da conversa com sempre.

– Então fica assim. Contaremos no aniversário depois da festa – disse meu pai.

– Até lá você não vai dizer nada a ela – completou minha mãe.

– Tudo bem – assentiu Jake, meio inseguro.

Contar o quê? Pra quem? Pensei comigo mesma.

– Nada e ninguém – disse meu pai respondendo às minhas perguntas internas.

– Desculpe-me – eu disse corando.

– Sem problemas afinal você não ouviu nada de importante – disse ele rindo.

Bufei. Até que lembrei de Jake.

– Jake, que tal se fossemos tomar um sorvete? – perguntei docemente.

– É claro – disse ele sorrindo.



6. Reações 
Chegamos à sorveteria perto da casa do meu avô Charlie. Uma chuva fina caía e por isso nos sentamos do lado de dentro. Todo mundo olhou quando entramos, não conseguia entender o porquê. Depois de tomarmos os sorvetes ficamos mais um tempo na sorveteria. Entramos no carro e no caminho uma pergunta me ocorreu.

– Jake me promete uma coisa? – perguntei sorrateiramente.

– Depende do quê – disse ele em resposta.

– Primeiro diga que prometa – eu disse me fazendo de inocente.

– Tudo bem, agora diga o que é – disse ele se fazendo de impaciente.

– Sobre o que vocês estavam conversando hoje cedo?

– Ah! Isso eu não posso dizer – ele disse rindo nervoso.

– Mas você prometeu – insisti.

– Sim, mas antes eu prometi para o seu pai – disse ele dando um fim na nossa conversa.

Chegamos à casa de Jake. Ele abriu as portas do carro e da casa para mim. Sentei-me no sofá e logo em seguida ele se sentou também.

– Você sabia que sua tia esta planejando uma festa de aniversário pra você? – perguntou ele. Estava claramente arranjando um assunto qualquer para me distrair.

– Ela sempre faz, mas meu aniversário ainda vai demorar a chegar – eu disse. Meus aniversários nunca foram normais. Eu tinha duas festas de aniversário por ano. Uma menor, apenas representativa, e outra na data real do meu aniversário. No meu primeiro ano, eu cresci o equivalente a uma criança de quatro anos e por essa razão minha tia fez questão de comemorar três “aniversários de crescimento”, como ela chamava, e o “aniversário oficial” que era o aniversário de verdade. No segundo ano foram dois aniversários de crescimento além do aniversário oficial e como dali em diante eu passei a avançar dois anos em um, por causa da desaceleração do meu crescimento, eu passei a comemorar apenas um aniversário de crescimento juntamente com o aniversário oficial.

– Nessie seu aniversário é no final de semana – disse Jacob – Hoje é quinta-feira, dia nove de setembro. Seu aniversário é sábado dia onze.

– M-mas como? Quer dizer, pensei que ainda estivéssemos em agosto – eu disse contando mentalmente quantos dias eu havia deixado passar desde a última vez que consultei o calendário.

– É passou muito rápido. Eu sei – disse ele pensativo – É muito cedo para desejar um feliz aniversário de seis anos? – ele abriu um largo sorriso.

– Dezesseis – eu o corrigi. Não gostava quando as pessoas só contavam os aniversários oficiais. Eu me sentia uma criança quando eu já era uma adolescente física e mentalmente.

– Tudo bem, tudo bem – disse ele rindo alto.

Franzi o cenho para ele. Ele parou de rir quando viu minha expressão, mas seu rosto ainda carregava um lindo sorriso.

Ele aproximou seu rosto do meu e sussurrou em meu ouvido – E depois você ainda diz que é adolescente. Seu comportamento não condiz com o de uma – sua voz provocou estranhos calafrios em minha coluna.

– Engraçadinho – eu disse ainda meio atordoada com aquelas estranhas reações. Ele riu alto novamente. Já não parecíamos os mesmos Jake e Nessie de um ou dois meses atrás. Havia alguma coisa de diferente, algo novo, desconhecido por mim até então. Balancei a cabeça como se isso a livrasse daqueles pensamentos atordoantes. Todos aqueles segredos e reações estavam me deixando maluca. Um longo período de silêncio se passou.

– Está tudo bem? – perguntou ele preocupado, mas com um ar brincalhão.

– Está. Será que pode me levar para casa?

– Por quê? Eu fiz alguma coisa de errado? Se eu te ofendi...

– Não é nada disso. Eu só quero ir para casa e descansar um pouco – eu disse tocando o seu rosto com delicadeza. Ele fechou os olhos quando eu fiz isso. Sorri e ele também sorriu.

Chegamos ao chalé. Como de costume meus pais estavam na casa principal.

– Posso ficar aqui com você se quiser – disse Jake.

– Tudo bem – sabia que na verdade ele ficaria mesmo se eu dissesse que não.

Ele se sentou no sofá e eu me sentei ao seu lado encostando minha cabeça em seu ombro. Ele pôs o braço em volta de mim e ficamos ali assistindo a um seriado até que peguei no sono.

Acordei na minha cama, a noite chegando à minha janela. Ao meu lado havia um pequeno bilhete de Jake. Abri.

Nessie,

Eu queria ter ficado, mas a matilha precisou de mim.

A gente se fala depois. Vou sentir sua falta.

 Jacob.

“Vou sentir sua falta”. Aquela frase mexeu comigo. Talvez porque eu também sentiria a falta dele. O que quer que estivesse acontecendo estava, com certeza, acabando comigo.

Levantei-me e fui tomar um banho. Eu não precisava de banhos, mas a água do chuveiro me acalmava. Vesti um jeans, uma camiseta vermelha e sapatilhas de mesma cor. Logo depois eu me dirigi para casa principal.

– Nessie! Que bom te ver minha linda! – disse tia Rose.

– É bom te ver mesmo – disse tia Alice – precisava saber se a roupa que preparei para você ia servir – ela começou a me puxar escada acima.

Chegando ao quarto de Alice, ela me colocou de frente para um manequim que estava coberto ‒ Voilà! – disse ela em francês enquanto puxava o tecido que cobria o manequim. O vestido era lindo. Era azul escuro, tinha uma saia volumosa de tule, um corpete todo bordado de pedras, com alças largas e com alguns detalhes em veludo. Tinha um lindo decote nas costas além, é claro, do decote frontal em coração.

– É perfeito – eu disse e ela abriu um sorriso de satisfação.

– Que bom que gostou!

– É demais tia! Obrigada.

Tia Alie me fez provar o vestido enquanto ela o ajustava e isso levou um bom tempo. Depois, desci as escadas e fiquei assistindo TV com meus pais até que peguei no sono e como de costume, eles me levaram para casa. O dia seguinte seria longo.



7. Festa
Acordei cedo, vesti um short preto e uma blusa de cetim com um pequeno detalhe em renda azul escura e sandálias de mesmo tom com pedraria. Saí para caçar com minha mãe e depois fui até a casa de meus avós, que estava toda decorada em tons de azul escuro e prata. Minha tia estava em cima de uma escada enquanto pendurava uma faixa de cetim prata com grandes letras azuis que diziam “Feliz Aniversário Renesmee!”.

– Tia, meu aniversário é só amanhã – eu disse ainda chocada com tudo aquilo.

– Eu sei, mas tenho muito a fazer e tenho que começar cedo afinal tenho pouco tempo – ela respondeu sorrindo.

Tudo estava uma bagunça. Todos se movendo de lá para cá que resolvi deixar que eles fizessem o que tinham de fazer e fui dar uma caminhada pela floresta. Caminhei até chegar à campina que meus pais costumavam me levar para brincar quando eu era pequena, o que não faz tanto tempo assim. Sentei-me na relva e fiquei ali em silêncio, os olhos fechados, apenas sentindo o sol em meu rosto. Fiquei ali por um bom tempo, até que um som me tomou a atenção. Era Jake se aproximando.

– Não queria incomodar – disse ele quando notou que eu havia percebido sua presença.

– Não está incomodando – eu disse sorrindo.

– O que está fazendo aqui? Pensei que ia ficar ajudando sua família com a decoração da sua festa – perguntou ele.

– Tudo estava uma bagunça então resolvi vir para um lugar mais calmo. E você? Como me achou?  - perguntei a ele.

– Segui o seu cheiro – disse ele normalmente.

– Claro – eu disse. É o que acontece quando se vive em meio a um monte de criaturas sobrenaturais. Você acaba sendo seguida pelo seu cheiro.

– Que foi? – perguntou ele sorrindo.

– Nada ‒ respondi dando um risinho.

– Nada é, mocinha – disse ele me fazendo cócegas e nós dois rimos como duas crianças.

– Jake – comecei.

– Sim – disse ele.

– Seu pai ainda faz lasanha nas sextas-feiras? – perguntei sorrindo.

– Toda sexta. Por causa da Rachel, sabe como é. Ela adora lasanha. Por quê?  - disse ele rindo.

– É que de repente me deu uma vontade de comer lasanha – eu disse sorrindo.

Ele me tomou nos braços e disse – Então vamos logo antes que Rachel acabe com tudo ‒ nós dois rimos.

Chegamos cedo à casa de Jake. Jantamos com Billy, Rachel e Paul, agora noivo de Rachel. O jantar foi silencioso, apenas alguns comentários sobre a comida.

 Depois de jantarmos, resolvi perguntar – vocês vão ao meu aniversário amanhã, não é?

– Mas é claro! Se você não sabe essa família aqui não perde uma boa festa – disse Billy. Todos nós rimos.

–Então guarde o resto da conversa para amanhã porque acho que já está na hora de alguém aqui ir para casa – disse Jacob olhando para mim.

– Tudo bem. Bom, acho que vejo vocês amanhã então – disse sorrindo.

– É claro - disse Rachel.

Saímos com o carro de Jake, um Rabbit que ele reformou antes mesmo de eu nascer.

– Acho que alguém aqui precisa de um carro novo – disse brincando com as palavras que ele usara para dizer que eu tinha de ir embora.

– Ei! Meu carro é muito bom – disse ele rindo. Nós estávamos rindo muito naquele dia.

Jacob estacionou o carro em frente à casa de meus avós. Saímos do carro e ele me parou antes que eu chegasse às escadas da frente.

– Que foi? – perguntei.

– Não vai nem se despedir de mim? – perguntou ele sorrindo.

– Pensei que ia entrar comigo – disse confusa.

– Não vai dar, eu ainda tenho que falar com Seth sobre a matilha e...

– Tudo bem – eu disse colocando meu dedo indicador em seus lábios.

Eu o abracei por um longo tempo e depois fiquei na ponta dos pés e sussurrei em seu ouvido – vou te esperar amanhã – ele estremeceu com a minha voz em seu ouvido, como eu fazia quando era ele a sussurrar em meu ouvido. Beijei o seu rosto e ele se foi com um lindo sorriso para mim.

Entrei em casa. As coisas estavam mais calmas agora, mas ainda sim estava tudo meio bagunçado.

– Onde você estava até agora? – perguntou minha mãe séria.

– Primeiro eu fiquei um tempo na campina até que Jacob apareceu e nós fomos jantar na casa dele com Billy, Rachel e Paul. Depois Jake me trouxe até aqui – eu expliquei.

– Bom mesmo – disse tio Emmett enquanto passava a expressão brincalhona imitando a de minha mãe.

– Emmett! – minha mãe o repreendeu.

Eu ri. Subi as escadas e fui até o quarto que um dia fora do meu pai. Era meu lugar favorito naquela casa. Sentei-me na enorme cama e fiquei olhando a lua através das grandes portas de vidro. Não sei quando foi que me deitei na cama, mas só sei que dormi ali.

Eu tinha certeza de que estava sonhando. Eu estava na campina, que estava coberta de flores amarelas e roxas. Eu usava um vestido longo, branco, quase transparente, que flutuava por cima das flores conforme eu andava descalça. O vestido tinha um bordado que brilhava sob luz forte do sol tão lindamente que por um segundo eu só conseguia olhar para ele. Deitei-me sobre as flores até que braços conhecidos e confortáveis me tomaram no colo. Era Jake. Ele também estava de branco. Ele me colocou em seu colo, tirou meus cabelos do rosto, seu rosto cada vez mais próximo do meu, até que eu percebi que ele não ia parar. Seus lábios estavam quase tocando os meus quando eu acordei ofegante.

Não estava nos meus planos ter um sonho como aquele. Sentei-me na cama quando minha tia apareceu saltitante na porta.

– Ah! Que bom que você já está acordada! Nós temos muito a fazer, então nada de enrolar – disse ela me pondo em pé.

Fomos para o quarto de minha tia onde ela passou a manhã e a tarde inteira me arrumando para a minha festa. Me senti como uma boneca na qual Alice gostava de brincar de vestir, pentear e maquiar. Já estava quase na hora de eu descer, todos os amigos da minha família estavam lá embaixo quando Jacob apareceu na porta vestido de smoking, sorrindo.

– Puxa Nessie! Você está linda! – disse ele me girando.

– Obrigada – disse corando. Queria dizer a ele que ele também estava lindo, mas acabei apenas sorrindo.

– Está na hora – cantarolou tia Alice.

Jake desceu correndo primeiro. E depois eu desci. Meu pai tocava a música que ele havia feito para mim quando eu nasci. Todos olhavam para mim e para o meu vestido, que por sinal havia ficado perfeito em mim.

Depois de receber os parabéns de todos e receber seus presentes maravilhosos era hora de receber os presentes da minha família. Tia Alie me deu um par de sapatos de uma marca famosa qualquer, ela adora em dar essas coisas, meus tios me deram um lindo colar que tia Alice escolheu, tia Rose me deu um vestido vermelho de seda, minha avó me deu um perfume e meu avô um lindo par de brincos de pérola e prata.

E finalmente era vez dos meus pais. Minha mãe tinha uma pequena caixa preta nas mãos. Meu pai a pegou, abriu-a e lá dentro eu pude ver um lindo anel. Ele era de ouro branco com uma pedra oval média, provavelmente uma safira que era entrelaçada por finos e delicados ramos de ouro branco, cravejados de diamantes.

– Era da sua avó Elizabeth – disse ele pondo o anel no meu dedo anelar – e acho que ela gostaria que você ficasse com ele.

– É lindo pai – disse admirando o anel. Minha avó Elizabeth deixara de herança diversas jóias para o meu pai e, com certeza, aquele anel e o anel que minha mãe carregava com ela eram as jóias mais bonitas de todas as que ela deixara.

– Obrigada mãe, pai. É lindo, perfeito – eu disse abraçando os dois.

– Tudo para a nossa garotinha – mamãe disse. Eu tinha lágrimas nos olhos.

Depois disso tia Alice me arrastou para a grande mesa onde se encontrava meu bolo, que eu fiz com que ela diminuísse o tamanho planejado porque quase ninguém comeria.

Como sempre eu corei enquanto cantavam parabéns para mim. E depois que a música recomeçou foi a vez de Jacob me puxar para a varanda e me entregar seu presente. Era um colar. A corrente fina e dourada combinava com a com o pingente. Era uma pequena cabeça dourada de lobo, linda, perfeita.

– Jake é maravilhoso! – eu disse enquanto ele colocava em meu pescoço.

– Eu quis que fosse dourado pra combinar com o seu medalhão, então mandei banhar o lobo que esculpi – disse ele em um tom despreocupado – em falar em medalhão onde ele está?

– Tia Alice não quis que eu usasse por ser dourado e minha festa ser prata e azul. Mas acho que ela não vai ligar se eu usar o colar. Acho que este colar e o anel que meu pai me deu são os presentes mais perfeitos uqe eu já ganhei na minha vida – eu disse.

 Que bom que gostou – disse ele observando o anel. A música lá dentro se metamorfoseou em uma música lenta – será que posso ter a honra de dançar com a aniversariante?

– Mas é claro – eu disse rindo.

Ele tomou minha mão e começou a seguir no ritmo da música. Não dissemos nada um para o outro durante a nossa dança, mas mesmo assim foi diferente, especial, melhor do que todos os presentes, melhor que todas as vezes que eu dançara com ele. Depois que a música acabou nós nos sentamos nas escadas e ficamos ali por um bom tempo conversando sobre os presentes que eu ganhei, sem falar muito no momento anterior. Até que meu pai apareceu na porta e pediu para conversar com Jacob. A conversa foi bem longa e depois Jake apareceu novamente meio preocupado.

– Nessie, já tá na minha hora. Eu ligo pra você pela manhã – disse ele me abraçando.

– Tudo bem – eu disse meio confusa. Mais uma troca de olhares entre ele e meu pai e ele se foi.

– Está na hora de nós irmos pra casa – disse meu pai.

– Tá. Eu só vou me despedir – eu disse meio entediada.

Depois de me despedir de cada convidado, papai e mamãe me levaram pra casa. Mas ao invés de me mandarem dormir, eles pediram para que eu me sentasse na sala. Eu não tinha idéia do que ia acontecer.


8. Revelação
– Nessie, precisamos ter uma conversa muito séria com você – começou meu pai.

– É algo muito importante e queremos que preste atenção – continuou mamãe.

Assenti.

– Nós já contamos pra você sobre a gestação de sua mãe e sobre o seu nascimento, mas ainda há uma coisa a contar – papai estava sério.

– Nessie – minha mãe suspirou – o que vou contar é algo sobre os lobos – ela deu uma longa pausa e depois continuou – existe uma coisa, algo muito peculiar nos lobos como Jacob. E essa coisa chama-se imprinting.

“O imprinting é algo muito difícil de ser descrito. É algo como amor a primeira vista, quase devoção. É como se a pessoa por quem o lobo sofre imprinting o prendesse ao chão, como a gravidade para ele. Como se fosse o próprio centro da Terra, entende? É como se tudo girasse em torno do objeto do imprinting. Ele vai ser qualquer coisa, fazer qualquer coisa que a pessoa por quem ele sofreu imprinting precise. Um irmão mais velho, um amigo, um protetor e se a outra parte aceitar...

– Se tornarão parceiros – completou meu pai meio amargo.

– Com parceiros você quer dizer... – eu disse meio confusa.

– Namorados, marido e mulher... – minha mãe disse cuidadosamente como se explicasse algo para uma criança pequena.

Meu pai pigarreou – mas não precisa ser assim se a pessoa não quiser ‒ parecia que ele não estava gostando nada daquilo.

– Mas o que eu tenho a ver com isso? – ainda estava muito confusa.

– Lembra-se daquela vez em que eu ataquei Jacob, quando você era bem pequena? - perguntou ela. Mostrei a ela a lembrança – sim, essa vez. Eu estava brigando com Jacob porque ele havia sofrido imprinting... por você.

– P-por m-mim? – gaguejei. Agora fazia todo sentido. Aqueles segredos, reações, desaparecimentos, meias respostas... Tudo porque eu era o objeto de imprinting de Jacob – é claro – sussurrei para mim mesma.

– É, por você – disse ela. Agora eu estava realmente confusa.

Fiquei um tempo em silêncio.

– Será que vocês poderiam me deixar sozinha. Eu preciso absorver tudo isso – pedi baixinho, pensativa.

– Claro filha. – disse meu pai – Boa noite.

– Boa noite, meu anjo – minha mãe disse me dando um beijo na cabeça.

Deitei-me sem sono. Fiquei rolando na cama, até que adormeci. O mesmo sonho da noite passada inundou minha mente. A campina, as flores silvestres, eu e Jake. E ao invés de fugir do sonho, deixei que minha mente me mostrasse o que eu não queria ver. Os nossos rostos, meu e de Jacob, se aproximando até que os lábios se tocaram, movendo-se em sincronia. Seu rosto se afastou um pouco do meu.

Ele começou a sussurrar – Eu te...

Trim, trim, triiim. O telefone interrompeu meu sono.

– Alô – eu disse meio sonolenta.

– Nessie, sou eu Jake – disse ele meio nervoso – te acordei?

– Não – menti melhorando a voz.

– Eu preciso falar com você. Agora – disse ele.

– Tu-tudo bem – gaguejei.

– Eu vejo você daqui a uns dez minutos, na campina, pode ser? – perguntou ele.

– Aham – assenti.

Corri para o meu guarda roupa. Vesti um jeans claro, uma camisa branca, um cardigan cinza, minhas sapatilhas vermelhas e coloquei o meu medalhão e o colar que Jake havia me dado.

Corri para a campina. Ele já estava lá me esperando.

– Oi ‒ disse tímida.

– Oi – disse ele com um suspiro. E depois de uma longa pausa disse – Eu imagino que a essa altura já saiba de tudo.

Assenti.

– E o que você acha? De tudo isso eu quero dizer – perguntou ele inseguro.

– Eu ainda não sei o que dizer – eu estava nervosa – quer dizer, eu não sei o que está acontecendo comigo. Você era meu melhor amigo até ontem. É tudo muito novo pra mim. Não sei o que dizer, nem o que pensar. Eu preciso de um tempo.

– Tudo bem. Pra quem esperou seis anos, alguns dias não podem matar, não é? – disse ele sorrindo, provavelmente tentando quebrar o gelo.

Sorri sem graça de volta. Mordi o lábio – É – disse eu – Eu vou indo então.

 E acabei, por instinto, fugindo antes que ele falasse mais alguma coisa. Corri o mais rápido que pude. Cheguei em casa, tranquei a porta e comecei a chorar sentada, encostada na porta. Não sabia bem porque eu estava chorando, mas estava.

Alguém bateu na porta. Era minha mãe. Abri a porta.

– Nessie, você está bem meu amor? O que aconteceu? – perguntou ela quando viu que estava chorando.

– Ah, mãe... Eu não sei o que está acontecendo... Só sei que está me angustiando. Muito – eu disse voltando a chorar em seus braços.

– Nessie, por acaso essa angustia toda tem a ver com coração palpitante, borboletas no estômago, tontura, dificuldade para respirar e algumas outras sensações? – perguntou minha mãe dando um risinho.

– Virou médica agora? – disse sendo sarcástica – desculpe-me – suspirei - é isso mesmo mãe. O que é isso, mãe? – perguntei aos soluços – que sensação estranha, às vezes tão maravilhosa e às vezes tão horrível.

– Isso se chama amor – minha mãe sussurrou como se contasse um segredo.

– Amor? – perguntei.

– É meu bem, amor. O sentimento mais bonito do mundo e também o mais horrível, como você disse.

– Você está dizendo que eu amo Jacob? – perguntei incrédula.

– É o que parece – disse ela convencida.

Afastei-me dela e fui até o meu quarto. Era isso que eu estava tentando dizer a mim mesma esse tempo todo? Eu amava Jacob? Eu amava Jacob, é claro – é claro! – gritei.

Saí correndo da casa, passando pela minha mãe e voltando para a campina, mas ele não estava mais lá. Comecei a correr na direção em que seu cheiro seguia, rastreando-o.

– Jake! Jacob! – eu gritava. Não adiantava. E quando vi estava perdida em meio à floresta. Angustiada e sem saber o que fazer, comecei a correr mais rápido, procurando uma saída até que tropecei em uma raiz e caí.

Machucada, desorientada, com medo, encostei-me a uma pedra e comecei a chorar.

Foi depois de alguns minutos, que eu ouvi um barulho, mas não ergui a cabeça por medo. Senti uma baforada quente em cima de mim. Olhei para cima e o lobo castanho avermelhado me encarava com a cabeça de lado como se quisesse me perguntar algo.

– Jacob! Ah, Jake! – disse abraçando o grande lobo.

Ele se afastou de mim e quando eu tentei segui-lo ele me fez voltar. Eu não entendi direito no começo, mas depois que ele voltou na forma humana eu consegui entender que era porque ele fora se transformar.

– Nessie! O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa? – perguntava ele enquanto se sentava e me puxava para seu colo de forma protetora – Renesmee me conte o que aconteceu, por favor – pediu ele angustiado quando viu que eu tinha voltado a chorar. Só que dessa vez eu chorava de alegria, alegria por vê-lo ali.

Respirei fundo e comecei – eu saí de casa pra te encontrar só que eu acabei me perdendo, caí, e como estava desesperada comecei a chorar, até que você apareceu – tagarelei sorridente.

– Ufa! E você ainda sorri – suspirou ele – que bom que é só isso – disse ele aliviado.

– E você pensou que fosse o quê? – disse rindo. Estava bem mais bem humorada.

– Sei lá. Mas... Por que você estava me procurando? – perguntou ele sorrindo. Eu podia ver a esperança em seus olhos.

– É que eu precisava te dizer uma coisa – disse corando, tímida de repente.

– Diga então – disse ele incentivando-me.

– Eu acho que descobri o que está me fazendo tão confusa – eu disse num sussurro, como uma criança que vai contar um segredo a um amigo.

– E o que é? – sussurrou ele de volta, o rosto se aproximando do meu.

Coloquei a mão em seu rosto, e ao mesmo tempo em que eu mostrei as minhas emoções eu sussurrei – eu descobri que te amo – suspirei ‒ Eu te amo Jacob Black, mais do que minha própria vida – toquei o meu medalhão que continha uma inscrição em francês que dizia o mesmo que eu havia dito. Mais do que minha própria vida.

– Eu também te amo Nessie – ele sussurrou ele em meu ouvido - e preciso de você mais do que preciso do ar para respirar – continuou ele, o rosto mais próximo do meu – é por isso que eu nunca tive ninguém, porque você é e sempre será a única para mim ‒ percebi que ele estava respondendo a pergunta que eu fizera há um tempo atrás. Aquela era a hora certa e eu sabia disso agora.

E como no meu sonho nossos lábios se encontraram, movendo-se em sincronia. Era muito melhor do que no sonho, a batida do meu coração de pássaro era quase um uníssono, o ar era insuficiente para que eu respirasse, seu toque quente em meu rosto era demasiado para que eu suportasse. Era como se minha alegria estivesse transbordando de mim. E não era somente o meu coração que palpitava. O coração de Jacob parecia que ia sair voando, a respiração acelerada que precisamos nos separar para tomar um ar. E logo em seguida seus lábios voltaram para os meus.

Eu separei nossos rostos mais uma vez, os olhos ainda fechados, as cabeças unidas. Nós estávamos ofegantes.

– E agora? – perguntei enquanto tentava recuperar o ar – o que eu vou dizer aos meus pais?

– Você quer contar a eles que é minha namorada agora ou prefere esperar um pouco? - perguntou ele igualmente sem ar.

– E eu sou isso mesmo? Sua namorada? – perguntei brincando.

– Só se você quiser – disse ele brincalhão.

– Eu quero – eu disse corando de satisfação.

– Era só o que eu precisava ouvir - disse ele nos pondo em pé e me tomando em um abraço – então, quer ir contar pro velho Billy que o filho dele arranjou uma namorada, meu amor? – “meu amor”. Era tão bom ouvir aquilo.

– Com certeza – eu disse lhe dando um beijo.



9. Problemas
Passamos a tarde com Billy, que ficou muito feliz em saber que estávamos juntos. Mas a noite começava a cair e estava chegando a hora de encarar meus pais.

– Pronta pra encarar o senhor e a senhora Cullen? – perguntou Jake.

– Acho melhor não dizer nada hoje. Talvez amanhã com calma e com você por perto eu possa contar a eles sobre o nosso namoro – eu disse pensativa – por enquanto poderia controlar seus pensamentos? – perguntei abraçando-o.

– Tudo bem, se você prefere assim – disse ele me beijando. E novamente eu perdi o fôlego.

Fomos para minha casa. Ele estacionou próximo ao chalé. Saiu do carro e abriu a porta para mim.

– Eu te amo – disse ele me tomando em um abraço apertado.

– Eu sei – disse brincalhona.

Ele riu e depois disse – tenho que ir – e se aproximando do meu ouvido sussurrou – espero que sonhe comigo, porque vou sonhar com você.

– Não se preocupe, meus sonhos já são seus – eu disse – mas é melhor você ir logo ou isso vai acabar ficando piegas demais – ri disso. Ele riu também e se foi.

Entrei em casa suspirando quando dei de cara com a minha mãe.

– Renesmee, onde você estava esse tempo todo? Seu pai e eu ficamos preocupados – disse ela me encarando.

– Estava na campina – menti.

– Sozinha? – perguntou ela incrédula.

– É, estava pensando nas coisas que me disse – talvez isso não fosse uma mentira.

– Tudo bem, mostre-me então – ordenou ela presunçosa. Odiava quando ela fazia isso. Pensei no outro dia em que estive lá e mostrei a ela. Acho que a convenci.

– Posso ir para o meu quarto agora? – perguntei fazendo cara de tédio.

– Pode sim – respondeu ela com um sorriso.

Coloquei meu pijama de seda rosa e me deitei na cama. A cabeça ainda girava com os acontecimentos de hoje. Eu fechei os olhos e as lembranças inundaram minha cabeça. Cada palavra, cada abraço, cada beijo... Tudo de uma vez só. Até que fui interrompida dos meus devaneios por uma batida violenta em minha porta.

– RENESMEE CARLIE CULLEN ABRA A PORTA! AGORA! – meu pai gritava. Sua voz era quase um rugido. Droga, droga, droga! Ele havia ouvido meus pensamentos. Agora eu podia me considerar uma meia-vampira morta.

Eu não fazia ideia do que fazer. Minha mãe tentava argumentar com meu pai, mas ele apenas a mandava se afastar. Coloquei meu hobby.

Pensei em uma imagem minha abrindo a porta e enquanto isso, abri a janela e pulei por ela correndo pela floresta sem rumo, havia aprendido a despistar meu pai com meus pensamentos. Não sei quando foi que atravessei a fronteira, mas sei que Seth me encontrou.

– Nessie, o que esta fazendo aqui? E ainda por cima de pijama? – perguntou ele.

– Pra que lado fica a casa de Jacob? – perguntei nervosa.

– Pra lá – disse ele apontando pra direita – vem eu te levo até lá – Seth estava de carro, provavelmente o carro de Sue.

– Tudo bem – disse entrando no carro.

Seth me deixou na frente da casa de Jake e seguiu para a casa dele. Bati três vezes na porta de Jacob e ele apareceu.

– Nessie, o que está fazendo aqui? – perguntou ele assustado

– Meu pai, ele, ele descobriu tudo e agora ele vai me matar. A mim e a você, vai nos matar. Eu não sei o que fazer! – eu estava desesperada.

– Calma, calma! Entra ‒ disse ele passando o braço em minha volta.

Nos sentamos no sofá e ele me apertou contra o peito – o que aconteceu? – perguntou ele.

– Eu entrei em casa, me deitei e sem querer eu me lembrei de tudo que aconteceu hoje, eu sabia que ia acontecer, mas eu achava que ele não estava em casa, mas ele estava e ele viu isso em minha mente, mas antes que ele conseguisse entrar em meu quarto eu fugi - expliquei a ele.

– Ah, Nessie, meu amor, eu sinto muito! Isso é tudo culpa minha – ele disse amargurado ‒ eu forcei você a dizer aquilo tudo, e talvez não fosse a hora...

– Você não tem culpa de nada e eu também não – disse repreendendo-o – meu pai não sabe entender as coisas, só isso – ele apenas assentiu.

– Eu te amo Jake e o meu pai não tem nada a ver com isso – eu disse me inclinando para beijá-lo, mas ele desviou o rosto – Ah, qual é Jake? Hoje mais cedo estava tudo certo e agora por causa do meu... Argh! – eu disse indo em direção à porta.

– Espera – disse ele entrando na minha frente – desculpa – disse ele me beijando. Nosso beijo foi longo, um daqueles que tira o fôlego até de quem está apenas observando.

– Você vai ficar aqui em casa esta noite – disse ele – assim pela manhã eu e você decidimos o que fazer, tudo bem?

Assenti. Ele me pegou no colo e eu ri – hora de por a menininha para dormir – disse ele rindo.

Ele me colocou na cama, me deu um beijo e foi para a sala onde dormiria esta noite. Eu não estava com sono então fiquei olhando para o quarto, o que fez com que, depois de algumas horas, eu conhecesse cada canto dele. Demorou mais um pouco até que eu consegui dormir.




10. Surpresas
Eu estava dormindo tranquila quando um baque surdo me acordou. Corri para a sala.

– Jake, Jake, acorda! – sussurrei desesperada.

– Que foi Nessie? – perguntou ele sonolento.

– Você não ouviu?

– Ouvi o que? – ele ainda estava confuso.

– Não sei bem o que foi, mas foi um som alto e... – fui interrompida pelo barulho de novo e depois consegui ouvir que havia uma discussão. Prestei mais atenção e consegui ouvir melhor. Meu pai estava na reserva e isso estava causando uma grande discussão lá fora.

– Nessie, seu...

– É eu sei! Ai, meu Deus! O que eu vou fazer?! O que ele vai fazer?! – eu dizia desesperada andando de um lado para o outro.

– Calma. Eu vou lá fora e dou um jeito de resolver – disse Jacob – você fica aqui – ordenou ele. Eu apenas assenti sentando-me no sofá, nervosa.

Alguns minutos se passaram até que meu pai e Jacob entraram na casa, meu pai na frente quase quebrando a porta e Jake depois, tentando acalmá-lo.

– Levante-se – ordenou meu pai se segurando para não gritar – vamos para casa.

– Espera – eu disse antes que ele passasse pela porta – eu vou embora com uma condição – eu parecia firme.

– E qual é essa condição? – perguntou ele sério.

– Que não crie mais problemas com relação a Jacob e a mim – respondi decidida.

– Renesmee... – disse ele ficando irritado.

– Ou é isso ou eu não volto mais pra casa – eu disse antes que ele começasse a argumentar.

Ele bufou – vamos pra casa. Agora – ordenou ele.

– Não. Não pode me obrigar. Prometa que vai fazer o que eu pedi antes – eu disse.

– Tudo bem – disse ele bem baixinho.

– Ótimo – eu disse ‒ a gente se vê depois Jake – eu disse lhe dando um beijo rápido.

Caminhamos em silêncio até o carro. A viagem foi igualmente silenciosa. Meu pai parou em frente à casa principal. Ele abriu a porta do carro para mim como de costume e nós entramos em casa. Estavam todos preocupados, mas não era comigo.

– O que aconteceu mãe? – perguntei. Ela parecia tensa.

– Renée ligou. Ela está vindo – disse ela assustada. Eu já havia ouvido sobre a minha avó e ela já viera uma vez quando eu era pequena, mas na época meus pais se esconderam comigo, porque vovó Renée não podia saber sobre mim nem sobre a transformação de mamãe – ela vem me ver. Eu disse que estava doente e que era melhor ela não vir, mas ela insistiu e disse que chega dentro de uma semana. Edward o que vamos fazer? – ela parecia angustiada.

‒ Eu quero conhecê-la – eu disse. Já fazia um tempo desde que tomara aquela decisão. Fora na tarde em que ela viera pela primeira vez. Eu disse pra mim mesma que da próxima vez eu tinha que conhecê-la e ninguém ia me impedir.

‒ Não podemos deixar que a conheça – disse papai.

‒ Porque não? – eu não ia desistir só porque ele queria – Eu tenho o direito de conhecer a minha avó.

‒ Edward, filho, eu acho que Nessie tem razão. Bella tem que mostrar Nessie para a mãe – disse vovô.

‒ Por favor, pai – eu pedi. Fez-se um momento de silêncio.

‒ Tudo bem – ele disse por fim.

Depois daquela decisão todos começamos a discutir como iriam me apresentar. A primeira opção era contar a mesma mentira que havíamos contado para Charlie, mas eu e mamãe achamos que era injusto e que ela iria descobrir assim como vovô havia descoberto, então decidimos pela segunda opção: dizer a verdade. Ia ser difícil, é verdade e ela não poderia dizer nada a ninguém muito menos a Phil, seu marido, mas tinha de ser assim.

Fomos para casa à noitinha. Papai colocou um filme e nós três ficamos assistindo, claramente uma tentativa de me fazer esquecer um pouco toda aquela bagunça.

Depois de algum tempo eu comecei a ficar sonolenta e meu pai me colocou na cama. Eu tinha trocado de roupa durante o dia, mas não tinha a mínima vontade de colocar o pijama novamente.

‒ Nós vamos até a casa de seus avós pra terminar de resolver as coisas, tudo bem? - sussurrou ele antes de sair. Eu balancei a cabeça em resposta. Estava com muito sono para responder qualquer outra coisa.

Depois de um tempo que eles saíram, eu ouvi um som que vinha da minha janela. Virei-me e resmunguei para o nada, sonolenta. Novamente ouvi o som e uma voz murmurando algo com “Nessie, abra a janela”. Irritada e com sono, caminhei até a janela, abri as cortinas e a janela me apoiando no divã que fica na frente dela. Jacob, como eu suspeitava, entrou e se sentou ao meu lado.

‒ O que faz aqui? Eu estava dormindo - resmunguei.

‒ Eu vim ver se você estava bem. Pensei que talvez seu pai tivesse te posto de castigo ou algo assim – murmurou ele de volta.

Eu apenas assenti, recostando-me em seu ombro. Minhas pálpebras pareciam pesar uma tonelada. Acho que acabei adormecendo, porque ele começou a me chacoalhar e a chamar pelo meu nome.

‒ O que é? – perguntei desnorteada.

‒ Eu estava falando com você – disse ele.

‒ E o que você estava falando?

‒ Eu dizia que eu me preocupo com você – ele não terminou. Aproximou-se mais do meu rosto, sua respiração desconcertando-me.

‒ Por quê?– eu disse tentando parecer coerente com uma pergunta incoerente.

‒ Porque eu te amo – sussurrou ele. Seu hálito quente fazendo-me perder a razão.

Ele me beijou. Sua mão que sustentava as minhas costas passou para minha cintura nos desequilibrando. Ele caiu por cima de mim e nós começamos a rir do nosso desequilíbrio. Mas para a nossa total falta de sorte, minha mãe havia voltado para casa e irrompeu pela porta.

‒ Renesmee você... Jacob! O que faz aqui?! – gritou ele espantada – No quarto da minha filha e ainda por cima... Ai, meu Deus! – ela falava desesperadamente.

‒ Mãe, mãe me escuta, não é...

‒ O que eu estou pensando? – completou ela – não é mesmo?

‒ Jacob é melhor você ir embora – eu sussurrei para ele.

‒ Tudo bem – respondeu ele. Ele se aproximou para me beijar, mas eu desviei o rosto – agora não – pedi a ele e ele assentiu. E ao invés de sair pela porta como minha mãe apontava, ele resolveu sair pela janela.

Fiquei olhando ele entrar na floresta, quando a mão fria da minha mãe tocou meu ombro.

‒ Não tem nada a dizer? – perguntou ela.

‒ Nós não estávamos fazendo nada, eu juro – eu disse pegando a sua mão e mostrando a ela o que havia acontecido.

‒ Eu acredito em você, mas, como mãe, acho que não posso deixar que as visitas noturnas se tornem frequentes. Entende? – disse ela dando um sorriso terno.

‒ Mãe, ele só veio ver se eu tinha ficado de castigo – eu disse. Ela me olhava descrente.

‒ Tudo bem. Agora volte a dormir – ela beijou minha cabeça – pelo menos fui eu quem encontrou Jacob e não seu pai – ela tinha razão. Se fosse meu pai, eu nunca mais veria Jacob. Estremeci com a ideia.

Não foi difícil dormir. Eu estava exausta a ponto de ter uma noite sem sonhos, mas acho que havia ido dormir muito cedo, pois acordei antes do nascer do sol. Levantei-me e fui até o meu closet, um pequeno anexo que tia Alice praticamente obrigou vovó Esme a fazer no meu quarto, pois para ela o guarda-roupa era insuficiente. Pelo menos mamãe a controlou ou então eu teria um closet enorme como o dela. Ri disso enquanto procurava algo para vestir. Acabei com uma camisa azul marinho de mangas ¾, um jeans cinza e sapatilhas pretas. Coloquei o medalhão e o colar do lobo que agora andavam juntos, e penteei o cabelo, prendendo dois cachos para liberar o meu rosto.

Eu ainda ria das minhas lembranças quando saí do closet e dei de cara com a minha mãe.

– Ele está aí, me pediu desculpas e agora quer te ver – disse ela sorrindo. Sabia que ela falava de Jake. Respirei fundo.

– Peça para ele entrar – eu disse casualmente.

‒ Acho melhor você ir até a sala para vê-lo – disse ela um pouco desconfortável.

‒ Tudo bem – eu disse cada palavra declaradamente, meio confusa.

Caminhamos em silêncio até a sala onde Jacob me esperava, em pé mesmo. Ele veio até mim e acariciou meu rosto – Tudo bem, meu amor? ‒ sussurrou. Ele se aproximou do meu rosto para me beijar, mas desviei o rosto assentindo.

‒ Vamos conversar lá fora – eu disse um pouco sem graça.

‒ Tudo bem ‒ disse ele confuso.



11. Ansiedade
Fomos para fora em silêncio. Caminhamos mais alguns metros no espaço livre chegando até as árvores. Sentamos na sombra de uma delas de frente pra casa. Ele acariciou meu cabelo ‒ Porque não deixou que eu te beijasse lá dentro?

‒ É que eu ainda não sei como dizer diretamente que nós estamos juntos para a minha família, muito menos beijar você na frente de algum deles – eu disse meio sem jeito.

‒ Mas você me beijou quando seu pai foi te buscar lá em casa – disse ele com um ar convencido.

‒ É, mas eu meio que fiz para provocá-lo, eu estava sob pressão – disse corando. Ele afagou a minha bochecha e se inclinou para sussurrar em meu ouvido – não se preocupe, nós vamos contar quando você achar que deve – seus lábios macios encontraram os meus me fazendo esquecer totalmente dos problemas. Ele afastou nossos rostos para falar algo, mas eu voltei a beijá-lo antes que ele conseguisse sequer respirar.

‒ Ei, ei – disse ele fingindo reclamar – será que a senhorita me permitiria falar? – brincou ele.

Assenti rindo.

‒ Eu ia dizer que sua mãe não parece se importar com o nosso namoro – ele apontou para a janela. Minha mãe nos observava sorrindo.

Nós dois acenamos para ela. – Desculpe-me – gritou ela lá de dentro e saiu sem jeito da janela. Nós rimos dela.

‒ Quer ir até a praia mais tarde? – perguntou ele docemente – nós podemos aproveitar que as nuvens deram uma trégua e podemos nos juntar aos outros, ver o pôr do sol, e ficar conversando em volta da fogueira – ele quase que sussurrava, roçando os seus lábios nos meus, desnorteando-me.

‒ Não precisa fazer isso para me convencer a ir com você – eu disse ainda meio zonza – está me deixando tonta, não consigo me lembrar de como se respira – eu disse dando um riso meio nervoso.

Ele riu alto. Curvou-se e disse – acho que arranjei uma nova maneira de te convencer das coisas, Senhorita Teimosia, mas acho que não vou te dar a oportunidade de se lembrar de como se respira – ele me beijou, os lábios urgentes. Eu quase desmaiei tentando encontrar o ar. Ele me soltou quando percebeu que eu havia ficado mole.

‒ Tá tudo bem? – perguntou ele um pouco preocupado.

‒ Como eu disse você me deixa zonza – eu disse respirando aos arquejos.

‒Vem, vamos lá dentro e você bebe um pouco de água, se senta e depois a gente pode assistir alguma coisa até a hora de irmos – ele disse me levantando com cuidado.

‒ Aconteceu alguma coisa, Nessie? – perguntou minha mãe quando eu e Jake passamos pela porta.

‒ Nada não mãe, só fiquei meio tonta.

‒ Tonta? – Perguntou ela confusa, mas brincalhona ao mesmo tempo.

‒ É, acho que me esqueci de como se respira por um momento – disse ainda meio incoerente.

Ela riu audivelmente. Seu riso era um repicar de sinos maravilhoso.

‒ Sei como é – ela disse rindo. Eu e Jake rimos com ela.

O resto do dia foi tranquilo assim como o resto da semana. Os dias passaram rapidamente e os ânimos começaram a ficar exaltados com a proximidade da visita de vovó Renée.

Eu estava sentada no sofá da casa principal quando o telefone tocou. Por instinto atendi. Era ela. Minha avó desconhecida, minha avó Renée.

‒ Alô – disse uma voz doce e suave.

‒ Re-residência dos Cullen – gaguejei procurando alguém pela sala.

‒ Bella? Bella é você? – perguntou ela.

‒ Não, sou... – reprimi o impulso de me apresentar – eu vou chamá-la. Só um minuto.

Corri para minha mãe, o telefone na mão – mãe – sussurrei com medo que ela ouvisse – é a vovó Renée no telefone – disse estendendo o telefone para ela, a mão trêmula.

Ela pegou o telefone como um raio da minha mão e pediu para que eu fosse chamar meu pai. Corri até a cozinha como ela havia instruído. Quase sem conseguir falar, dei-lhe o recado e sentei-me na mesa de jantar.

Estava pensando no que dizer à minha avó quando meus pais voltaram trazendo com eles a família toda.

‒ Nós temos que combinar o que fazer, o que dizer ainda hoje – disse meu pai – Filha, sua avó chega amanhã – completou ele para mim.

‒ E o que eu vou fazer? – perguntei tentando não transparecer a insegurança que estava sentindo.

‒ Sua mãe vai conversar com sua avó e nós todos vamos estar com ela, mas você vai ficar em outro lugar até que sua mãe te chame – ele explicou ajoelhado na minha frente. Eu continuava sentada enquanto todo mundo, os rostos apreensivos, nos observava.

‒ Porque eu tenho que ficar escondida? – Sempre, completei mentalmente.

‒ Porque sua avó iria perguntar automaticamente quem era você e nós queremos prepará-la antes – disse ele sorrindo. Era o único que não parecia tão angustiado.

‒ Tudo bem – respondi.

‒ Agora você vai pra casa e vai descansar. Nós temos que arrumar as coisas por aqui e você tem que estar descansada e bonita para ver sua avó amanhã, certo? – disse minha mãe me levantando.

Fui pra casa e direto para o meu quarto. Eu não havia percebido, mas estava exausta. Tomei um banho quente, coloquei um pijama de malha, afinal de contas começava a esfriar naqueles dias, e me deitei, adormecendo rapidamente. Até que no meio de meus sonhos, lembrei-me de que Jacob não havia aparecido nem hoje  e nem apareceria no dia seguinte uma vez que haviam combinado com ele para que não viesse pra cá por causa de Renée. Acordei mais rápido do que havia dormido. Jacob e eu estávamos cada vez mais ligados e deixar de vê-lo, ainda mais nessa situação, não era nada bom. Deixava-me angustiada.

Peguei o telefone na mão, mas eu não tinha certeza do que fazer. Comecei a discar os números, mas fiquem com medo e coloquei-o de volta no gancho. Respirei fundo e peguei o telefone de novo, não era vontade, era necessidade. Disquei o número rapidamente, antes que eu acabasse por desligar novamente, e esperei batendo o pé que ele não atendesse. Mas ao contrário do que eu queria a voz, rouca pelo sono, atendeu.

‒ Jake, sou eu, Nessie – disse sem graça por tê-lo acordado. Já havia feito aquilo antes, o acordado no meio da madrugada e ele viera correndo pra cá. Deus! Eu sou tão egoísta  pensei comigo mesma – não era nada só estava testando o telefone – disse rapidamente qualquer coisa que me veio na cabeça, a voz subindo duas oitavas.

‒ Testando o telefone? – perguntou ele incrédulo.

‒ O telefone andou dando problema e como eu tinha que testá-lo apertei o botão de rediscagem – ainda soava muito falso, mas eu tinha que inventar alguma desculpa.

‒ Então...  Tá – disse ele vagarosamente, meio sem acreditar que eu havia ligado somente por isso – eu vou desligar – ele falava como se desconfiasse de que eu ainda tinha algo para falar.

‒ Tudo bem – dei de ombros, mas quando percebi que ele falara sério, uma certa onda de coragem me inundou – Jacob! – eu meio que gritei.

‒ Sim – percebi um certo humor na sua fala.

‒ Me desculpe – Droga! Eu sou tão estúpida! – eu sou uma idiota, essa é a verdade. Não liguei por causa do telefone, liguei por que eu queria te ver, mas não queria dizer pra não te incomodar.

O telefone ficou mudo de repente. Aquilo era estranho. Apertei o botão de rediscagem e Billy atendeu – Alô – disse ele.

‒ Billy, Jake esta aí? – perguntei.

‒ Ele acabou de sair, quer deixar recado?

‒ Não, obrigada. Tchau.

‒ Tchau.

Só se... Da última vez que aquilo havia acontecido, ele viera parar em minha casa em menos de cinco minutos. Só que agora tínhamos um problema, meus pais haviam proibido ele de se aproximar durante a visita de Renée, e ele ia quebrar a regra.

Ah, que se dane! – meu lado mais rude exultou. Não, não, não! – gritei mentalmente comigo mesma. Isso era injusto com ele, era quase meia-noite e eu meio que o havia obrigado a vir me ver.



12. Renée
Antes que eu pudesse parar para respirar, lá estava ele batendo a minha janela. Abri-a mais rápido do que deveria. Eu necessitava de seus braços ao meu redor e quando ele o fez foi como se o mundo tivesse parado e nada mais tivesse importância.

‒ Antes que você me mande voltar, eu já vou dizendo que eu vim porque quis e porque eu estava morrendo de saudades suas – disse ele me beijando.

‒ Bobo – eu disse rindo.

Ele se sentou esticando as pernas longas no meu divã e me puxou para o colo. Eu me aconcheguei em seus braços e depois de muito conversarmos, acabamos dormindo.

Já era de manhã quando minha mãe abriu a porta e depois de nos ver, saiu sem fazer barulho para não nos acordar, mal sabia ela que eu já estava acordada.

‒ Nessie, é hora de acordar ‒ disse ela dando três batidinhas na porta como se nada tivesse acontecido.

Espreguicei-me, estava meio dolorida porque havia dormido toda encolhida e provavelmente Jake também estava. Cutuquei-o para que ele acordasse e fiz um sinal para que ele ficasse em silêncio. Ele entendeu.

‒ Você tem que ir agora – eu disse meio pesarosa, eu queria ficar com ele, mas não podia. Não agora.

‒ Tudo bem ‒ ele sussurrou dando um meio sorriso. E antes de sair, ele se voltou até mim e disse ‒ eu te amo ‒ e percebendo que eu começara a ficar nervosa ele completou ‒ tudo vai ficar bem, vai dar tudo certo – dito isso, ele beijou minha cabeça e se foi.

‒ Nessie – tia Alice adentrou o quarto cantarolando o meu nome – hora de se arrumar. Vá para o banheiro tome um bom banho e venha para que eu possa deixá-la bem bonita para sua avó ‒ ela disse sorrindo.

Fiz o que ela pediu. Quando voltei, haviam algumas peças de roupas em cima da cama e minha tia caminhava na minha direção com o par de sapatos que ela havia me dado no meu aniversário nas mãos. Eram uma regata de cetim azul marinho, saia lápis preta e um cardigan preto com bordas em cetim. Os sapatos eram pretos de salto, bonitos, mas que eu ainda não havia usado.

‒ Não acha que eu estou um pouco formal demais? – perguntei pra ela.

‒ Não, você está perfeita – disse ela orgulhosa de seu trabalho.

‒ Olá, posso entrar? – perguntou tia Rose entreabrindo a porta.

‒ É claro – eu e tia Alie dissemos em coro.

‒ Trouxe o que você pediu – disse ela a tia Alie entregando uma pequena maleta a ela.

‒ Ótimo! – exclamou tia Alie batendo palmas.

Ela abriu a maleta e começou a tirar os vários produtos de beleza dela de dentro. Depois de uma hora inteira ela parou e disse ‒ Agora sim, você está oficialmente perfeita ‒ Ela me pegou pelo braço e me levou até o espelho. Eu estava realmente muito bonita.

‒ Você fala como se ela já não fosse bonita, Alice – disse tia Rose ‒ Bom, melhor irmos logo, sua mãe já deve estar preocupada.

Caminhando em direção da casa principal, notei que minhas mãos e meus joelhos tremiam. Não há o que temer, ela é sua avó, eu repetia freneticamente para mim mesma. Pena que não adiantava nada. Ah! Como eu queria que meu Jake estivesse ali comigo pra me dizer que tudo ia dar certo...

‒ Nessie, querida? Chegamos – disse tia Rose.

‒ Oh! Sim, claro – disse voltando para a realidade – ela já está aí?

‒ Ainda não. Mas está chegando e é melhor você ir para o seu lugar – disse ela sorrindo.

‒ Tudo bem – eu disse suspirando.

O “meu lugar” era na cozinha, sentada a mesa. Eu deveria ficar ali até que minha mãe me chamasse. Tentei ficar ali e me acalmar, desviando os pensamentos para outras coisas, mas não aguentei e fui até a beira da porta para tentar ouvir algo. Assim que ela, minha avó, chegou, um cheiro doce maravilhoso tomou conta da casa. Ouvi os comprimentos alegres que ela dava a todos, assim como ouvi o espanto em sua voz quando viu mamãe.

‒ Bella, meu anjo, você está tão diferente – ela disse isso tentando disfarçar o susto que provavelmente teve. Eu dei uma espiadela. Ela era linda, muito parecida com mamãe só que humana, com olhos azuis e cabelos curtos.

‒ Você tem que levar os anos em consideração, mãe – disse mamãe. O problema é que para ela os anos não haviam passado.

‒ Mas no seu caso parece que os anos não passaram – disse vovó. Eu ri, acabara de pensar aquilo. Vovó Renée olhou em volta e eu sabia o que ela procurava, procurava da onde vinha a risada. Prendi a respiração. Ela não podia me ver antes da hora. Meu pai limpou a garganta.

‒ Porque não começamos a contar a Renée tudo que está acontecendo aqui – disse meu pai tentando disfarçar.

‒ Espere – disse mamãe levantando-se e indo até a porta. Abriu-a e vovô Charlie apareceu diante dela – agora podemos começar.

Depois de alguns cumprimentos, Charlie sentou-se ao lado de Renée.

‒ Acho que estamos todos aqui – disse vovó Esme – podemos começar.

‒ Começar o quê? – perguntou Renée.

‒ A te contar o que aconteceu nestes últimos anos – disse Charlie.

‒ Como assim? – perguntou ela.

‒ As coisas não aconteceram do jeito que você pensa que aconteceram, mãe. E nós decidimos que você deveria saber a verdade uma vez que papai já sabe de tudo – disse mamãe.

‒ Bella, acho que está se precipitando, querida. Porque não começamos com o básico para que Renée possa entender? – perguntou papai.

‒ Tudo bem – disse ela suspirando – lá vamos nós – mamãe deu um risinho nervoso.


13. Novidade
‒ Mãe, se lembra daquele livro, sobre vampiros, que você leu quando eu tinha uns quatorze, quinze anos e que eu disse que era uma completa idioti-ce? – perguntou mamãe.
‒ Sim é claro que me lembro, você me fez vender o meu livro na primei-ra venda de garagem – disse vovó Renée rindo.
‒ Pois bem, esqueça o que eu disse – disse ela.
‒ Como assim? Você achava aquilo ridículo e agora me diz que é para que eu esqueça o que você disse? – vovó riu um pouco.
‒ Eu tenho os meus motivos, acredite – mamãe suspirou – e eu vou con-tá-los a você. O que você faria se eu dissesse que vampiros existem?
‒ Eu riria de você – disse ela – esse tipo de coisa não existe Bella, você sempre disse isso, meu anjo. Mas porque essa conversa agora?
‒ É que... É que, eles realmente existem ‒ disse mamãe nervosa.
‒ Que brincadeira é essa Bella? – disse Renée rindo.
‒ Não é brincadeira – disse Charlie.
‒ Até você Charlie! – ela ria alto.
‒ Você está vendo alguém aqui rir Renée? – perguntou vovô.
Eu estava começando a ficar nervosa, não sabia como ela reagiria. Se ela reagisse mal, o que eles iriam fazer?
‒ Mãe, me dê sua mão – disse mamãe.
‒ Oh! Você está gelada Bella – disse vovó Renée quando mamãe colo-cou sua mão sobre a dela.
‒ Olhe – e dito isso mamãe levou a mão aos olhos e delicadamente reti-rou as lentes e as colocou nas mãos de Renée.
‒ Seus olhos... Estão dourados – sussurrou ela espantada – Charlie! O que está acontecendo aqui? Isso é um sonho, não é? Só pode ser, não tem outra explicação – dizia ela desesperada.
‒ Eu também não acreditei no início, mas é a mais pura verdade, Renée. É estranho eu sei – disse Charlie. Renée ficou em silêncio.
‒ Eu realmente não sei o que dizer – disse ela por fim.
‒ Não precisa dizer nada. Aliás, você não pode dizer isso a ninguém – disse mamãe dando um risinho nervoso.
‒ O que vocês são? – sussurrou ela para mamãe. Eu dei um risinho baixo – porque são todos vocês, todos com a mesma cor de olhos, pele clara...
‒ Somos o que eu disse que éramos – disse mamãe – vampiros.
‒ Vampiros. Isso significa que...
‒ Não Renée, não nos alimentamos dessa forma – papai respondeu a per-gunta mental de Renée.
‒ Como sabe o que eu ia perguntar?! – perguntou ela espantada.
‒ Coisas de vampiros, mas eu explico depois. Primeiro, agora que está tudo bem... Está tudo bem, não é? – perguntou mamãe.
‒ É, ainda vou me acostumar a isso, mas por enquanto esta tudo bem sim – disse Renée respirando fundo.
‒ Mãe, eu acho bom que esteja tudo bem mesmo porque as surpresas ainda não acabaram – pronto, agora era minha vez.
‒ Ainda tem mais?! – perguntou ela espantada.
‒ Você vai adorar essa surpresa – disse vovô Charlie.
‒ Vou é? – disse ela.
‒ Você sempre quis que eu te desse um neto ou uma neta...
‒ Você está grávida?! – perguntou Renée espantada,mas feliz ao mesmo tempo.
‒ Na verdade ela já é bem grandinha, mãe – disse mamãe rindo – mas eu vou te explicar tudo. Renesmee porque não vem aqui para que sua avó te veja?
Respirei fundo e caminhei até onde eles estavam. Renée ofegou, mas mesmo assim eu continuei andando e me sentei ao lado de minha mãe, de frente para vovó Renée, mantendo a cabeça um pouco baixa. Nervosa, olhei timidamente para ela. E novamente ela ofegou, mas eu sabia porque. Ela tinha visto os meus olhos, os olhos da minha mãe, os olhos de Charlie, olhos castanhos cor de chocolate.
‒ Bella... Eu vejo você, vejo Edward, vejo Charlie e vejo a mim mesma no rosto dela, mas ela é uma adolescente, não pode ser sua filha. Quer dizer, é impossível, a idade dela... – ela falava quase que para si mesma.
‒ Ela tem seis anos mãe – disse minha mãe sorrindo – eu sei que não pa-rece, mas Renesmee tem um desenvolvimento acelerado. Quando completar sete anos, se tornará imutável, como nós. Isso ocorre porque ela é híbrida, meio humana, meio vampira. Eu a tive quando era humana.
‒ Que loucura – sussurrou Renée. Eu queria abraçá-la e dizer o quanto eu estava feliz por conhecê-la, mas eu ainda tinha que esperar – como você disse que ela se chama?
‒ Porque não pergunta a ela? – disse mamãe.
Ela olhou para mim ternamente e perguntou – qual é o seu nome queri-da?
Eu não me contive e sorri para ela – Renesmee. Renesmee Carlie Cullen – eu disse orgulhosa.
‒ Que nome... interessante – disse ela sorrindo sem tirar os olhos de mim.
‒ O primeiro nome é uma mistura de Renée e Esme. O segundo é de Car-lisle e Charlie. Achei que um nome diferente seria apropriado para esse caso – minha mãe sorria. Vovó Renée tinha lágrimas nos olhos. Ela se aproxi-mou de mim e tocou o meu rosto delicadamente – Renesmee... tão linda – as mesmas palavras que minha mãe havia dito quando me carregou pela primeira vez. Isso fez com que uma lágrima de alegria escorresse por meu rosto. Vovó Renée a enxugou delicadamente.
‒ Você não faz ideia de como eu estou feliz por te conhecer – disse ela sorrindo.
Eu dei um sorriso largo. Virei para minha mãe e toquei o seu rosto. Pos-so mostrar a ela? ‒ perguntei mentalmente.
‒ Mãe, se importa de Renesmee te mostrar algo? – ela perguntou sorrin-do para mim.
‒ Não, é claro que não. O que é minha linda? – perguntou ela para mim. Eu sorri e falei mais alto – Me dê sua mão – ela estendeu a mão para mim e eu a segurei firme – não se assuste – e então comecei a mostrar tudo o que havia acontecido desde meu nascimento até o dia anterior.
‒ Oh, meu Deus! O que foi isso? – ela disse espantada, mas ao mesmo tempo encantada.
‒ Esse é o dom de Renesmee. É um jeito muito peculiar de se comunicar, não acha? – perguntou mamãe me abraçando. Eu ri.
‒ Muito – disse vovó – mas Bella, esse Jacob não...
‒ Renée, porque não vamos conhecer a nossa casa, acho que Bella vai adorar mostrá-la a você – disse papai cortando a frase de vovó. Ela ia falar algo sobre Jake, eu tinha certeza, só não entendia porque papai não a deixou terminar. Tinha algo de errado e eu ia descobrir.




14. Dor

Mamãe e vovó se dirigiram para o chalé. Eu tinha de ficar. Mas é óbvio que eu não ficaria ali. Dei um jeito de despistar os outros e corri para o cha-lé. Entrei na ponta dos pés. Elas estavam no quarto principal.
‒ Eu não posso contar a ela, mãe - dizia mamãe quando eu me aproxi-mei.
‒ Você tem que contar Bella. Ela tem o direito de saber – respondeu vo-vó.
‒ Como eu vou dizer a ela?! Eu não posso simplesmente chegar e dizer “Renesmee, Jacob era apaixonado por mim antes de você nascer e por isso tentou matá-la por ter quase me matado”. Isso não é algo fácil de dizer para uma filha!
Suas palavras foram como pedras atiradas contra mim. Jacob gostava de-la. Ele tentou me matar. Ele me odiava. E a amava.
‒ Você não precisa dizer – eu sussurrei adentrando o quarto, os olhos transbordando lágrimas.
‒ Renesmee! O que faz aqui eu te pedi para ficar lá, ficar com seu pai – disse ela pegando em meu braço.
‒ Me solta! – gritei, puxando meu braço de suas mãos bruscamente. A raiva me consumia – não quer dizer mais nada, mamãe?! – perguntei ironi-camente – não faltou nada?! Que tal dizer “Você é o prêmio de consolação dele”! Não acha que completaria perfeitamente a história?!
‒ Renesmee, você está muito exaltada! – disse vovó.
‒ Por favor, vovó, não fique aqui, vá para a casa principal – disse aos so-luços, um pouco mais baixo.
‒ Mãe, vá – minha mãe disse.
‒ Bella, ela está muito nervosa! – respondeu vovó.
‒ Mãe, por favor, vá. Eu resolvo as coisas com Renesmee – disse minha mãe fingindo estar calma.
‒ Tudo bem, tudo bem, eu vou – disse ela – tem certeza de que vai ficar tudo bem? – perguntou ela a mamãe.
‒ Tenho, pode ir. Eu vou daqui a pouco – respondeu mamãe.
Vovó assentiu. Ela olhou para mim, deu um sorriso triste e se foi.
‒ Nessie, preciso que preste atenção...
‒ Eu não quero te ouvir mais, mãe! Me deixe em paz! – gritei para ela voltando a chorar.
‒ Nessie, pelo amor de Deus, não faça assim comigo! – ela me pediu an-gustiada ‒ isso aconteceu há anos! Tudo mudou agora!
‒ Como pode dizer que tudo mudou agora?! Jacob não me ama como pensei que me amava! Ele só está comigo porque funciono como uma subs-tituta sua! Não vê! Ele me odiava! Me odiou desde o começo, não foi?! Quando você e papai disseram que ele não gostou logo de cara da ideia de você estar grávida foi porque ele me odiava desde o momento que soube que eu existia, que eu estava dentro de você, não foi?! Responde pra mim, mãe! – eu gritava a plenos pulmões.
‒Não é nada disso, Renesmee! Não é nada disso! – repetia ela angustia-da. Ela tinha o rosto transtornado, parecia chorar, se tivesse lágrimas com certeza estaria chorando.
Respirei fundo – pode, por favor, me deixar em paz? Por favor? – eu pe-di baixinho.
Ela suspirou ‒ Tudo bem – respondeu ela e saiu me deixando completa-mente só.
Transtornada, eu comecei a tirar da minha frente tudo que me lembrava dele, tudo que tinha a ver com aquilo. O choro me cegava, as lembranças, nítidas demais, começaram a girar em minha cabeça. Sua voz, seu cheiro, seu toque inundando a minha cabeça de uma só vez.
Eu estava tão cega de ódio, que quando dei por mim, estava chorando, sentada no chão, agarrando o colar que ele me dera no meu último aniversá-rio, prestes a jogá-lo contra a parede. O que eu estava fazendo comigo? Le-vantei-me, coloquei o colar dentro da gaveta do criado mudo, peguei um vestido preto, outro par de sapatos, de salto, pretos também, e fui tomar um banho para relaxar.
Depois do banho eu me sentia um pouco melhor. Puxei um rabo de cava-lo e fui até a casa principal.
‒ Renesmee! – exclamou vovó Renée – Graças a Deus! Está tudo bem com você, querida?
‒ Está sim – sussurrei. Não queria que vovó soubesse o quão chateada eu estava. Sentei-me ao lado de meu pai no sofá. Fiquei ali, em silêncio, ape-nas observando-os conversando, felizes com Renée. Esperei até que ficas-sem menos agitados e disse:
‒ Pai, posso sair um pouco? – minha pergunta não passou de um sussur-ro.
‒ É claro filha – respondeu ele ternamente – mas volte logo, sim?
Assenti com um meio sorriso triste.
Fui até a campina. Com os sapatos nas mãos, caminhei pelo caminho es-treito até encontrar o meu lugar favorito. Sentei-me na parte ensolarada. Fiquei ali, sentada, olhos fechados, lágrimas rolando. Mas algo me incomo-dou.
‒ Nessie? Oh, Nessie! Que bom que está aqui, estava morrendo de sau-dades! – disse Jacob me abraçando.
‒ O que está fazendo aqui? Me solta! – gritei com ele.
‒ O que foi meu amor? – ele perguntou com inocência.
‒ Não me chame de... meu amor – disse, os dentes cerrados, as lágrimas escorrendo incontrolavelmente. As duas palavras que eu mais amava agora me causavam repulsa.
‒ Nessie, o que está acontecendo? – perguntou ele.
‒ Ai, pare de me chamar de Nessie! Meu nome é Renesmee, de Renée e Esme juntos, sem variações! – repeti o que minha mãe dizia quando eu era pequena.
‒ O que esta acontecendo? – perguntou ele de novo.
‒ Eu sei de tudo, Jacob Black! Sei que me odiou desde o primeiro dia, que tentou me matar, sei que amava Isabella Swan, sei que sou só uma substituta dela, sei que... – eu não conseguia mais falar, só chorava, chora-va.
‒ Renesmee, o que está falando? Eu te amo. Isso que você disse é verda-de em partes, mas era uma realidade totalmente diferente, outro mundo, outro eu – ele disse.
‒ Não, não é verdade! Como você podia amá-la em um dia e me amar em outro? Isso é impossível! Já que não podia tê-la, resolveu que ia ficar comigo! Não foi?! – eu gritava com ele.
Ficamos em silêncio. Eu desmoronei no chão, chorando.
‒ Eu te amo Nessie, você não pode... – sussurrou ele.
‒ Vá embora! Vá embora, Jacob Black! Vá embora daqui! Do meu mun-do! Da minha vida! – eu queria gritar, mas só consegui sussurrar. E ele se foi. Eu me deitei na grama e fiquei ali encolhida por um bom tempo. Depois de mais calma, levantei-me, me arrumei e fui para casa.
Entrei, corri para o quarto, joguei os sapatos em um canto do quarto e afundei na cama.



15. Inglaterra
Acordei no dia seguinte me sentindo péssima. Meu mundo tinha virado de cabeça para baixo em um dia. Eu não podia demonstrar como eu estava mal, não enquanto minha avó Renée estivesse ali, então escolhi uma roupa que eu usaria se estivesse mais alegre. Era uma blusa com estampa de qua-dradinhos azuis e vermelhos, uma saia azul marinho, com listras, de cintura alta, um cinto vermelho e scarpins vermelhos também. Peguei uma das mi-nhas pulseiras e coloquei no pulso, prendi o cabelo e saí do quarto.
Ninguém em casa de novo. Parecia ridículo, mas eu não tinha coragem de abrir a porta e enfrentar o dia. Fiquei parada com a mão na maçaneta por um longo tempo. Vamos Renesmee, você não pode ficar aqui para sempre – meu subconsciente ficava repetindo isso, mas eu não queria escutar.
Respirei fundo e saí. Mas acho que não deveria ter feito isso. Foi como se um baque surdo me fosse dado nas costas e tivesse me feito cair de joe-lhos ali, sem forças para levantar. Parecia que ele estava em cada canto que eu olhava. Quando minha mãe me encontrou eu chorava descontroladamen-te agachada na frente da porta.
‒ Renesmee o que aconteceu? Porque está assim meu amor? – disse ela afagando minhas costas. Eu não estava brava com ela, ela não tinha culpa do sentimento de Jake e diferentemente dele, ela havia me amado desde o princípio, desde quando ela soube que eu existia. E nunca desistira de mim. Abracei-a, sentando-me no chão enquanto ela afagava meus cabelos.
‒ Ai mãe! Dói tanto! Eu o amo tanto! – respondi a ela aos prantos.
‒ Então porque ficar ignorando-o, mentindo pra si mesma? – perguntou ela.
‒ Porque eu não quero ser uma substituta. Quero que ele me ame pelo que eu sou, não por ser sua filha.
‒ Você esta certa disso, não é? Meu amor, ele te ama! Você não é e nem nunca foi uma substituta minha para ele – disse ela.
‒ Ai mãe, às vezes parece que você não consegue ver o que esta na sua frente! - exclamei.
‒ E às vezes parece que fosse não quer admitir que esta sofrendo porque é teimosa – retrucou ela.
‒ Não quero mais falar sobre isso – disse eu, praticamente admitindo a derrota. Sim, eu sou teimosa, mas eu tinha herdado isso dela.
‒ Tudo bem. Mas agora vamos que sua avó esta preocupada com você. Entre, lave o rosto e depois venha. Vou estar aqui te esperando aqui, está bem? – disse ela com ternura.
Eu assenti. Minha mãe era muito boa pra mim. Por mais que eu tivesse me irritado com ela, sempre que podia ela estava lá para me ajudar, me con-fortar.
Voltei para a varanda um pouco mais calma, minha mãe me recebeu com um abraço, sorrindo ternamente.
‒ Vamos? – perguntou ela.
Assenti.
O dia passou lentamente. Assim como a semana. Vovó foi embora na quinta. E minha vida parecia um poço sem fundo de tristeza. Parecia que nada mais me fazia feliz. E eu tentei fazer muitas coisas diferentes. Fui comprar roupas com tia Alice, Tive aulas de piano com meu pai, ouvi as histórias do meu avô, ajudei minha avó na cozinha, ajudei tia Rose a arru-mar o jipe do tio Emmett, e fui com ele caçar. Mas nada me fez ficar me-lhor. Eu não aguentava mais aquele lugar, não aguentava mais ficar ali ven-do os dias passarem. Então tomei uma atitude.
‒ Pai? – disse chegando na sala.
‒ Sim, Nessie – disse ele colocando o livro que lia de lado.
‒ Eu decidi uma coisa – eu comecei.
‒ Decidiu? – perguntou ele.
‒ Sim. – respirei fundo – Eu vou para a Inglaterra.
‒ Como assim Renesmee? Você esta pensando em ir sozinha para a Eu-ropa? Seria quase como se entregar aos Volturi! – disse ele começando a ficar nervoso.
‒ Mas aqui eu não fico mais – eu disse.
‒ Então nós vamos com você. Temos a casa em Londres, podemos ficar lá por um tempo – ele havia entendido o porquê, estava claro.
‒ Obrigada, pai – eu disse, as lágrimas começando a se formar em meus olhos – eu vou para o meu quarto. Com licença – me virei e segui para o meu quarto. Afundei na cama chorando. Eu andava chorando demais naque-les últimos dias, seria bom mudar de ares.
Assim como o combinado, dentro de uma semana, fomos para Londres. Foi um pouco difícil deixar minha família, minha casa, mas eu tinha de fa-zê-lo. A casa londrina era muito confortável e ficava distante do centro da cidade, o que era ótimo. Nós saíamos a noite com frequência, uma clara tentativa de me alegrar. Mas quando eu começava a ficar mais feliz, algo ou alguém me lembrava dele. E eu voltava à melancolia. Ainda sim, era melhor do que ficar em Forks.
Depois de duas semanas eu fiquei sabendo que Jacob havia ido para o Havaí, para a casa da irmã. A distância aumentando entre nós me fez recair em tristeza. E o amor que eu sentia só aumentava.
Eu comecei a me irritar facilmente, não saía mais do quarto e quando sa-ía era sempre sozinha, a companhia das pessoas parecia me entristecer. Pa-recia que tudo havia virado uma rotina, a minha melancolia, as minhas ca-minhadas solitárias, a dor que me inundava toda noite, a saudade... Mas eu tinha que permanecer firme. Ou aparentemente firme. Eu me esforçava, de verdade, eu até tentei fazer algumas coisas diferentes, como ser voluntária em um orfanato, mas foi por pouco tempo e eu acabei por voltar a mesma tristeza de sempre.
Até que virou rotina. Tudo parecia calmo. Parecia. Uma surpresa no meio do caminho mudou tudo.


16. Reconciliação
Era um dia completamente normal. Eu saí para caminhar, mas fiquei até o fim da tarde fora. Fiquei um tempo numa sorveteria, depois comprei al-guns CDs em uma loja na Oxford Street, e fui para casa, de ônibus mesmo. Entrei quase sem fazer barulho em casa, não porque eu estava me escon-dendo, mas porque eu não gostava mais de comentar com ninguém o que eu andei fazendo. Foi quando eu ouvi aquela voz, rouca, baixa ali tão perto. Meu único pensamento foi de que eu havia ficado louca.
Me aproximei um pouco mais do lugar de onde vinha a voz. E vi que ele não estava sozinho.
‒ Eu não consigo entender porque ela não entende – disse ele.
‒ Eu sei, eu sei, mas Nessie te ama demais, logo ela volta atrás na deci-são – disse mamãe. E depois ela continuou pensativa ‒ Sabe, naquele pri-meiro dia, aquele dia em que briguei com você – ela deu um risinho – eu tive um insight, eu entendi o que estava acontecendo, apesar de não ter pa-recido. Você nunca me amou Jake, pelo menos não por completo. Você amava uma parte de mim que não me pertencia, você amava a parte que pertencia a ela, desde o começo você era dela e ela era sua. Por isso eu pre-cisava ficar perto de você quando eu estava esperando Nessie e até mesmo antes disso, na verdade era ela que precisava de você. Eu nunca te amei des-sa forma, por isso eu não fiquei com você, não te escolhi, minha ligação com Edward foi mais forte, porque a ligação que eu tinha com você na ver-dade nem era minha, na verdade era Nessie que me ligava a você, antes mesmo de existir. Vocês tem uma ligação muito forte, muito intensa Jake, não vê? Não é um desentendimento como esse que vai acabar com ela.
Ele suspirou. E eu me senti sufocada por um momento, e sai correndo porta afora. E é claro que ele percebeu e foi atrás.
Eu me sentei, encolhida embaixo de uma árvore ao lado da casa. Ele se ajoelhou na minha frente, eu não o olhava. Ele tocou meu braço. Eu levantei um pouco a cabeça, os olhos úmidos e percebi que seus olhos também esta-vam tristes, mas brilhavam.
‒ Você ouviu? – perguntou ele baixinho.
‒ O que faz aqui? – perguntei tão fraco que um ouvido humano não ou-viria.
‒ Eu sei que pediu para eu ir embora para sempre, mas eu não consegui. Me perdoa? – perguntou ele. Ele estava pedindo desculpas, o que fez com que eu me sentisse mal.
‒ Não precisa se desculpar – eu sussurrei fraquinho.
‒ Mas eu descumpri a promessa que te fiz – disse ele com inocência.
‒ Talvez se você não a descumprisse, eu teria descumprido – eu disse dando um meio sorriso ‒ eu fui uma completa idiota, eu... eu devia ter ouvi-do minha mãe, eu nem soube da metade da história e tirei minhas próprias conclusões. Eu... eu...
‒ Ei, ei! Calma – sussurrou ele me acalmando. Eu praticamente havia despejado as palavras em cima dele. Ficamos ali por alguns segundos sem nada dizer um para o outro.
Ele olhou pra mim e depois sorriu abertamente – então sentiu minha falta assim como senti a sua? – perguntou ele tentando quebrar o gelo.
Eu apenas dei um sorriso fraco. E quando vi suas mãos estavam em mi-nha cintura e as minhas, agarradas a gola de sua camisa, seu rosto se apro-ximando do meu, a respiração quente no meu rosto, o que me fez desligar de tudo, só o que eu queria é que seus lábios macios tocassem os meus.
‒ Vai se arrepender disso depois, não vai? ‒ perguntou ele num sussurro.
‒ Deixe que eu me arrependa – eu disse, ansiosa pelo beijo.
Ele riu. E eu ri. Pela primeira vez em dias, eu ri.
‒ Eu te amo – sussurrei para ele e seus lábios encontraram os meus.
O beijo começou calmo, lento, delicado, mas logo foi ficando mais in-tenso, até que uma hora começamos a ficar sem fôlego e ele separou os nos-sos rostos.
‒ Obrigada – eu disse ofegante.
‒ Pelo que? – perguntou ele igualmente ofegante.
‒ Pelo beijo e por não ter me ouvido – eu disse lhe dando um sorriso – se você não tivesse descumprido a promessa que me fez, eu não sei o que teria acontecido.
‒ Eu estou aqui agora. O que aconteceu não importa mais – disse ele aca-riciando meu rosto.
‒ Eu te amo – repeti.
‒ Eu te amo mais ainda – disse ele me levantando no ar. Eu ri alto.
Ele me pegou pela mão e entrou comigo em casa.
‒ Acho que consegui Bella – disse ele mais me olhando do que olhando para ela.
Eu sorria tanto naquele momento que até minha mãe começou a sorrir.
‒ Ah, Jake! Obrigada por trazer esse sorriso de volta – disse ela tocando meu rosto.
‒ De nada. É sempre uma honra ajudar – disse ele brincalhão.
Jake ficou comigo até o fim do dia. Havia momentos em que coversáva-mos no sofá, outros em que eu simplesmente recostava minha cabeça em seu ombro e ficava em silêncio assim como ele. Foi em um desses momen-tos que adormeci. 



17. Desentendimentos
Obs.:Never let me go Florence + the machine
Eu cochilava tranquila no sofá quando Jake, que estivera todo aquele tempo ao meu lado se levantou. Eu ia me acordar quando ele afagou minhas costas e sussurrou que já voltava.
Ouvi a porta da frente se abrir.
‒ O que você está fazendo aqui Jacob Black? – perguntou meu pai quase num rugido.
‒ Eu vim atrás de Nessie – respondeu Jake.
‒ Vá embora – disse meu pai com raiva – não deveria ter vindo, cachorro idiota.
‒ Eu não vou embora. Nessie me quer perto dela – disse Jake alterando a voz.
‒ Sabe que ela iria te querer até se você tentasse matá-la – disse meu pai sarcástico.
‒ Eu não fiz nada! Sabe que foi tudo um mal entendido – disse Jake ago-ra gritando.
‒ Fez sim! Você a magoou! Ela sofreu esses dias todos – berrou meu pai.
‒ Edward pare! Eu tive culpa nisso também. Não devia tê-la deixado es-cutar aquilo tudo, ela não estava preparada. Se alguém tem culpa de alguma coisa aqui sou eu – disse mamãe entrando na discussão.
‒ O que está acontecendo? Porque estão brigando? – eu disse me apro-ximando.
‒ Fique longe Renesmee! – disse meu pai.
‒ Não! Eu não vou ficar longe! Parem de brigar! – eu gritava com lágri-mas nos olhos.
‒ Nessie faça o que seu pai lhe pediu – disse Jake.
‒ Eu não vou a lugar nenhum até que parem de brigar! – gritei para eles.
‒ Vamos Nessie – disse minha mãe – deixe-os conversar.
‒ Eles não estão conversando! Estão brigando! – eu dizia chorando.
Minha mãe quase me arrastou para o quarto.
‒ Mãe, eles vão se matar se ninguém estiver lá – eu disse tentando argu-mentar. Ela simplesmente deu um sorriso sem graça.
‒ Nada vai acontecer. Agora durma, sim? Durma meu amor. Tudo vai passar – disse ela começando a cantar a minha música. Depois de um bom tempo chorando e me encolhendo a cada grito que eu ouvia lá de baixo, eu adormeci. Só despertei no outro dia. Não havia ninguém no quarto.
‒ Mãe! – gritei correndo escada abaixo – o que aconteceu? O que acon-teceu ontem? Onde está Jake? Onde está papai? – eu despejava as perguntas em cima de minha mãe.
‒ Não aconteceu nada demais, Nessie. Jake deve estar no hotel dele e seu pai saiu para comprar algumas coisas para você comer – disse ela calma-mente.
‒ Qual é o hotel que Jake está hospedado? – perguntei.
‒ Nessie, é... Seu pai não vai gostar se você for até lá – ela disse meio preocupada.
‒ Ele o mandou ficar longe, não foi? – eu perguntei mais baixo.
‒ Ele o proibiu de te ver – disse ela num sussurro.
‒ Argh! – grunhi – Meu pai não pode fazer isso! Eu não sou mais uma criancinha!
‒ Você tem que ter paciência ‒ disse mamãe.
Eu apenas bufei. Sentei-me a mesa para esperar o café da manhã que mamãe me preparava. Meu celular estava ali em cima. Peguei-o na mão, e comecei a brincar com ele até que sem querer apertei um botão e vi que havia uma mensagem. Era Jake me pedindo para encontrá-lo e um endere-ço.
Tomei o café e subi para o meu quarto. Vesti um vestido cinza com mangas de renda, meias pretas e calcei um Oxford de salto baixo preto. Pe-guei a bolsa e saí com a desculpa de esfriar a cabeça. Peguei um táxi e fui para o endereço que ele me mandou. Ele estava lá.
‒ Jake? – perguntei. Como se não soubesse que era ele.
‒ Ah, Nessie! – disse ele me abraçando ‒ Eu pensei, quer dizer... Seu pai...
‒ É, eu sei – eu disse lhe dando um beijo – O que vamos fazer?
Ele deu uma longa pausa ‒ Eu tenho um plano – disse por fim.
‒ E qual é? – disse nervosa.
‒ Vamos fugir – disse ele como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.
Eu pisquei os olhos atônita – O quê?! – eu exclamei.
‒ Não vamos fugir para sempre. Só vamos passar uns tempos longe, ar-rumar nossas vidas e então voltamos e seu pai não vai poder fazer mais na-da contra nós, porque...
‒ Porque...? – eu perguntei.
Ele tirou do bolso uma caixinha preta com um laço de cetim em cima, desamarrou o laço e me mostrou o que tinha dentro. Era um anel de ouro branco com cristais Swarovski austríacos, lindo, maravilhoso, Era composto por um enorme coração vermelho e seis pequenos cristais que o adornavam. Eu já havia visto um daqueles na loja, devia ter-lhe custado muito caro.
‒ Vamos estar casados – disse ele completando a frase com um sorriso lindo no rosto. Ele pegou o anel e colocou-o em meu dedo anelar da mão esquerda.
‒ Ah, Jake – eu suspirei os olhos cheios de lágrimas.
‒ Eu quero ficar ao seu lado para sempre. Não importa o que aconteça, eu quero passar a eternidade com você – ele disse olhando em meus olhos. Eu mal o enxergava com tantas lágrimas nos olhos.
‒ Eu te amo – foi só o que eu consegui dizer. E ele me beijou apaixona-damente.
Depois que ele separou nossos rostos eu perguntei – Mas Jake, não acha que é muito cedo, quero dizer, não sei se estou preparada para me casar.
‒ Talvez nós dois não estejamos preparados, mas às vezes vale a pena ar-riscar – disse ele.
Eu dei um meio sorriso.
‒ Então, quer casar comigo? – perguntou ele com um sorriso bobo no rosto.
‒ Sim – eu disse baixinho para ele.
‒ Eu te amo – disse ele por fim.


18. Fuga

Cheguei em casa quase na ponta dos pés. Mas quando pensei que tinha escapado, meu pai me fez a pergunta que eu temia:
‒ Onde esteve até agora Renesmee? – perguntou ele sério.
‒ Estava andando pela cidade para espairecer – respondi rápido.
Ele deu de ombros. Pensei que ele havia encerrado o assunto, mas na verdade aquele era apenas o começo.
‒ Nessie, eu e sua mãe decidimos que já está na hora de voltar para casa – ele foi firme.
‒ Oh... – eu fui pega de surpresa – É... Tudo bem. Mas quando vamos?
‒ Ainda essa semana – disse ele.
‒ Está bem – fingi não ligar. Tinha que avisar Jake.
Subi as escadas. Peguei o telefone na mão e disquei o número de Jake.
‒ Alô ‒ ele atendeu.
‒ Sou eu, a Nessie ‒ eu sussurrei muito baixinho.
‒ Nessie? Aconteceu alguma coisa? – perguntou ele.
‒ Não posso falar agora. Me encontre amanhã no mesmo lugar e hora – eu sussurrei rapidamente.
‒ Tudo bem – disse ele.
‒ Tenho que desligar. A gente se fala amanhã.
‒ Tudo bem – disse ele. Desliguei.
‒ Renesmee, – mamãe chamou – venha, esta na hora do jantar.
‒ Estou indo – respondi. Guardei o celular e corri escada abaixo.
Jantei em silêncio. Depois pedi licença e subi para o meu quarto. Deitei na minha cama. Será que eu tinha tomado a decisão certa? Sim. Eu ia até o fim agora.
O dia amanheceu ensolarado. Acho que isso é um bom sinal, pensei co-migo mesma.
Vesti um vestido preto de renda, um sobretudo xadrez preto e branco, pois apesar de ensolarado o dia estava frio, e um par de sapatos vermelhos de salto. Peguei meus óculos de sol e avisei minha mãe que ia sair. Ela me perguntou aonde eu ia e eu disse que ia comprar alguns CD’s novos, já que íamos voltar logo pra casa e eu precisava de uma playlist nova.

Desci do táxi. Ele estava ali sentado em uma mesinha do lado de fora de uma pequena lanchonete bebendo um copo de suco. Ele é tão lindo... Meu futuro marido – pensei comigo mesma dando um suspiro. Aquilo estava decidido, se era necessário fugir para ficarmos juntos, se era necessário que nos casássemos, nós não íamos medir esforços.
‒ Oi – eu disse com um meio sorriso.
‒ Oi meu amor. – respondeu ele enquanto eu me sentava ao seu lado – O que aconteceu?
‒ Bem, ‒ comecei ‒ meu pai me avisou ontem a noite que estamos vol-tando para Forks ainda essa semana e é por isso que vim falar com você. – Suspirei. ‒ Como e quando vamos fugir?
Ele deu um sorriso largo.
‒ Vai ser assim – começou ele – eu vou para o Havaí, para a casa da mi-nha irmã. Você vai para Forks. Fica lá um a semana pra não desconfiarem de nada. Assim que surgir a primeira oportunidade você pede para ir caçar. Acha que consegue chegar a cidade e pegar um taxi? – perguntou ele. As-senti. ‒ Ótimo! – disse ele – Então você pega um táxi e vai até o aeroporto de Seattle. Aqui, pegue isso – disse ele me entregando um envelope.
‒ O que é isso? – perguntei avaliando o envelope.
‒ As passagens e o dinheiro do táxi – disse ele.
‒ Eu tenho dinheiro – eu disse rindo.
‒ Presente de casamento – ele disse dando aquele sorriso lindo que eu amava.
Revirei os olhos. Nós conversamos por um bom tempo e então eu me despedi, passei na loja de CD’s, para não causar desconfiança, e voltei pra casa. Meus pais me esperavam na sala.
‒ Nessie? – disse mamãe quando eu entrei – Poderia vir até aqui, meu amor?
‒ Claro – eu disse me dirigindo a sala.
‒ Nessie, ‒ papai começou ‒ amanhã à noite estamos voltando para casa. E você sabe que isso implica algumas condições, não sabe?
‒ Jacob... – Soltei com um suspiro.
‒ Sim. – Ele disse. – Você já entendeu, certo?
Repassei mentalmente a briga que ele tivera com Jacob e o que mamãe me disse.
‒ Isso – ele respondeu.
‒ Eu vou arrumar as minhas coisas. ‒ Eu disse cabisbaixa.
Ele apenas assentiu.
Eu arrumei minhas malas e fui dormir. O dia seguinte foi calmo. Como combinado embarcamos pela noite. Chegamos em Seattle quase pela ma-nhã. Então uma viagem de uma hora em um pequeno avião até Port Angeles e outra, de uma hora também, de carro até Forks.
‒ Nessie! – Gritou tia Alice vindo até mim e me abraçando ‒ Pensei que nunca mais ia voltar!
Eu me limitei a sorrir.
‒ Nessie, minha linda! – Tia Rose me abraçou também. Mais outros abraços e cumprimentos se seguiram.
Entramos na casa principal. Sentei-me no sofá e tirei meus sapatos.
‒ Nessie, ‒ chamou vovó – não sabe o que eu fiz pra você.
‒ O que vovó? – Eu disse dando um risinho.
‒ A sua comida favorita: – ela disse – Lasanha!
Eu ri, mas por dentro eu ainda via o rosto de Jacob em minha mente, rin-do na última vez que eu jantara em sua casa.
‒ Nessie? – Meu pai me chamou.
‒ Sim? – Respondi voltando de meus pensamentos.
‒ Sua avó está te chamando. Não vai jantar? – Disse ele me olhando sé-rio. Tinha lido meus pensamentos.
‒ É claro – Eu disse.
Depois do jantar nós fomos para o chalé. Eu sentia falta daquele lugar, afinal fora ali que eu crescera. Mas agora as coisas eram diferentes.
Como combinado ao fim da semana, depois de todos terem ido caçar, eu pedi para ir.
Meu pai ficou meio inseguro em me deixar ir sozinha, mas ele concor-dou.
Eles estavam todos na casa principal. Eu me dirigi normalmente para o chalé com a desculpa de colocar uma roupa melhor para caçar. Lá eu peguei a mala que eu havia feito. Na verdade era apenas uma mochila com algumas roupas e pertences. Coloquei a mochila nas costas e corri o mais rápido que pude sem olhar pra trás.
Cheguei à cidade uns quinze minutos depois. Peguei o táxi. Em uma hora eu estava no aeroporto de Seattle torcendo para que ninguém desconfiasse. Cheguei ao guichê e apresentei meus documentos com nome falso. Eu sabia onde minha mãe guardava os documentos atualizados para alguma emer-gência.
‒ Senhorita Vanessa Wolf? – Disse a atendente.
‒ Sim? – Respondi.
‒ Sua passagem. – Disse ela me estendendo o papel. – Seu voo sai em 15 minutos, a senhorita já pode embarcar.
‒ Ah! Obrigada. – Eu disse.
O voo foi tranquilo e dentro de algumas horas eu estava no Havaí. Jake e sua irmã vieram me receber.
‒ Nessie! – Ele disse me dando um grande abraço. – Deu certo! Eu nem acredito!
‒ Muito menos eu. – Disse nervosa.
Ele sorriu pra mim, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto. ‒ A par-tir de agora vai ser só eu e você.
Eu sorri.



19. Reencontro
Edward Cullen
Eu lia tranquilamente um artigo sobre música clássica em uma revista quando percebi que Bella estava muito impaciente.
‒ Está tudo bem querida? – Perguntei a ela.
‒ Nessie está demorando demais! – Disse ela angustiada.
Olhei no relógio em cima da TV. Já passava das cinco horas da tarde. Nessie havia saído há mais de duas horas.
‒ Tem razão. Eu vou procurá-la. – Disse acalmando-a. – Eu acho que ela deve estar na campina, ela adora passar o tempo lá. – Eu sorri e lhe beijei a cabeça.
Quando saí do chalé procurei seguir o cheiro de Nessie. Mas quando cheguei no meio da floresta seu rastro desapareceu. Andei mais um pouco, mas nada dela. Fui até a campina e nada. Até que Bella me ligou.
‒ Edward! – Ela estava alarmada. – As roupas... As roupas de Nessie... Não estão mais aqui! – Ela mal conseguia falar. – Quer dizer... Uma parte significante delas não está mais no armário! Edward, pelo amor de Deus! Você precisa encontrar Renesmee, precisa encontrar nossa filha!
Naquele momento eu não pensei em outra coisa a não ser que eu já sabia aonde encontrá-la e o faria, nem que para isso eu tivesse que entrar em terri-tório proibido.
‒ Bella, eu vou encontrar Nessie, ok? – Eu disse a ela. ‒ Eu vou fazer o que estiver ao meu alcance e quero que você fique em casa, entendeu?
‒ Aham. ‒ Ela assentiu.
‒ Eu te amo – eu disse por fim.
‒ Eu também te amo – ela disse tristonha.
‒ Eu vou encontrá-la. Eu prometo. Agora tenho que ir.
‒ Tudo bem. Ligue-me quando tiver notícias. – Ela desligou.
Corri o mais rápido que pude para La Push. Parei na frente da porta de Billy tomando o cuidado para que ninguém me visse. Bati na porta.
‒ Pois não? Edward! O que está fazendo aqui? – Disse Billy. – Entra an-tes que alguém da matilha te veja!
Eu entrei. Billy pediu para que eu me sentasse no sofá.
‒ Então, Edward, o que o traz aqui? – Ele perguntou.
‒ Onde está Jacob? – Perguntei rapidamente.
‒ Ele está na casa da irmã, no Havaí, por quê?
‒ Minha filha está com ele. – Não foi difícil para Billy entender.
Nós passamos um bom tempo conversando sobre a fuga de Jacob e Re-nesmee. Billy ligou para a casa da filha no Havaí e ela – inocentemente – confirmou nossas suspeitas. Ele me explicou onde ela morava e eu me apressei em seguir para lá. Consegui um pequeno jato e viajei para o Havaí. Cheguei lá no dia seguinte, afinal tinha saído quase pela manhã. Dirigi-me ao endereço que Billy havia me dado.
Era uma casa comum, mas muito charmosa, bem ao estilo havaiano. To-quei a campainha. Uma moça, que de cara eu soube que era a irmã de Jacob, uma vez que era igual a Rachel, sua irmã gêmea, atendeu a porta. Ela estava vestindo um vestido azul de festa com algumas flores no cabelo.
‒ Olá em que posso ajudar? – Ela provavelmente me achou estranho, eu estava todo coberto por causa do sol e fazia muito calor para alguém estar vestido daquela forma.
‒ Poderia falar com Jake? – Eu fiz questão de chamá-lo pelo apelido para que não houvesse desconfiança.
‒ Ele já foi para a praia. A noiva dele está aqui, quer falar com ela? – Noiva. Foi apenas aquela palavra que me fez entender o traje dela. Renes-mee planejava se casar com Jacob.
‒ Claro – eu respondi baixinho.
Nós entramos. Ela me deixou na sala e foi chamar Renesmee. Quase não reconheci minha filha quando ela apareceu na sala. Ela estava linda, parecia um anjo. Ela vestia um vestido branco, longo, mas ao mesmo tempo muito leve e seus cabelos estavam presos em um coque com um pequeno arranjo prateado. Ela tinha um enorme sorriso no rosto, mas quando me viu seu sorriso sumiu.
‒ Rebecca, será que podia nos deixar a sós por um momento? – pergun-tou ela séria.
‒ É claro. Se precisar de mim estou na cozinha. – Dito isso ela se retirou.
‒ Pai? O que faz aqui? Como me encontrou? – Ela me perguntou angus-tiada.
‒ Por que não me disse que iria fazer isso? Por que sumiu? Sua mãe fi-cou muito preocupada! – Eu lhe disse.
‒ Pai, olhe eu não queria que tivesse que ser assim. Eu realmente não queria, mas o senhor não ia deixar.
‒ Nessie, eu sei que...
Fui interrompido pela entrada abrupta de Jacob.
‒ Nessie, o que aconteceu? – ele entrou dizendo. E ela correu e o abra-çou. ‒ Edward? O que... Quer dizer, como...? – Jacob se atrapalhava com as palavras, mas seus pensamentos eram claros.
‒ Billy me disse onde estavam. Eu não podia deixar que fizessem nada de errado – eu olhei para o vestido de Nessie novamente.
Nessie perguntou mentalmente a ele como sabia que ela precisava dele e ele murmurou que Rebecca o havia chamado.
‒ Eu sei que fui duro com ambos, mas não deviam ter tomado uma deci-são como essa antes de todos termos uma longa conversa.
Nessie suspirou.
‒ Você tem razão. Acho que fomos rápido demais – disse Jacob refletin-do sobre tudo que havia acontecido naquela semana.
Eu pigarreei.
‒ Vocês não avançaram demais, não é? – Eu tinha que perguntar. Eu era pai e a minha filha havia crescido muito rápido, era normal que eu me preo-cupasse.
Renesmee arregalou os olhos castanhos e corou.
‒ Não, não aconteceu nada, eu juro! – disse Jacob igualmente constran-gido e assustado.
‒ Ahn... Tudo bem então – eu disse por fim.
‒ Bom, acho melhor dizer para Rebecca cancelar tudo então – disse Ja-cob. Eu assenti. Nessie se limitou a suspirar, tristonha.
‒ Eu vou me trocar – disse ela. Tinha sido bem fácil até.
Jacob, a irmã e o cunhado dele trataram de cancelar a cerimônia e des-montar tudo. Renesmee trocou de roupa e soltou os cabelos, que estavam lisos e iam até a cintura. Ela veio e se sentou ao meu lado. Eu passei o braço em vota de seus ombros.
‒ Pai? – começou ela.
‒ Sim, Nessie.
‒ Você não vai me proibir de ver Jake não é? – perguntou ela, os olhos castanhos angustiados.
‒ Não, querida. Eu entendi que isso não vai impedir ambos de ficarem juntos – eu suspirei. – Mas agora tem que me prometer que não vai fazer nada por impulso.
‒ Eu prometo – disse ela. Eu lhe beijei a cabeça e ela sorriu para mim. Minha filhinha, minha pequena Renesmee.


20. Rapto
Renesmee Cullen
Estávamos voltando para casa. Despedi-me de Rebecca e de seu marido. As coisas não haviam saído como planejado, meu pai aparecera e impedira a maior loucura que podíamos pensar em fazer. Agora eu via assim. Não que eu não quisesse me casar com Jake. Ah... Essa era a coisa que eu mais queria. Passar a eternidade com o meu Jake. Mas meu pai estava certo, era muita loucura, estávamos agindo sem pensar, nós mal tínhamos começado a namorar e já íamos nos casar sem dar nenhum tipo de explicação a minha família.
‒ Nessie? – chamou Jake.
‒ Sim? – eu disse entrando no carro.
‒ Eu te amo – disse ele. Eu dei um meio sorriso.
‒ Eu sei. Eu também te amo – eu disse e lhe beijei.
‒ Prontos? – perguntou meu pai.
‒ Sempre – eu respondi sorrindo para Jacob.
Nosso voo foi bem tranquilo. Eu e Jake conversamos bastante. Certa vez, ele me abraçou e sussurrou em meu ouvido:
‒ Não foi dessa vez, mas você ainda vai ser minha – seu sussurro fez có-cegas em meu ouvido.
‒ Eu já sou sua – respondi com a cabeça baixa.
‒ Futura Senhora Black – ele sussurrou e eu me arrepiei.
Nós chegamos pela noite em casa. Eu estava exausta, parecia um zumbi enquanto caminhava até a casa principal. Jake ia me apoiando. Acho que não dormi muito bem na noite passada.
‒ Renesmee! – Gritou mamãe correndo até mim. – Está tudo bem com você querida? O que aconteceu? Onde estava? Eu estava tão preocupada! E Jake? O que ele faz aqui? Quer dizer... – Ela despejava as perguntas em cima de mim.
Eu mal conseguia falar. Eu acho que ia desmaiar de tanto sono. Eu me limitei a emitir um ruído ininteligível como resposta.
‒ Ahn... Bella, acho que Nessie não vai conseguir te responder hoje. – ele tinha um tom cômico. Eu agarrava o tecido de sua camiseta tentando me sustentar.
‒ Jake leve-a para o chalé – disse papai.
No mesmo instante Jake passou o braço por trás dos meus joelhos e me alçou para o seu colo.
‒ Pode deixar – disse ele.
Chegando ao chalé, Jake me colocou na cama. Quando ele ia me soltar, agarrei sua mão e lhe mostrei o que pensava.
“Não vai, fica aqui comigo! Por favor!”‒ eu pedi mentalmente.
‒ Nessie, eu não posso ficar, eu tenho que ir conversar com seus pais – disse ele com ternura.
“Por favor!” ‒ pedi começando a chorar como uma criança com sono chora ao tirarem seu ursinho de pelúcia de perto chora.
‒ Não chore amor, não chore – sussurrava ele no escuro, me ninando. – Eu fico até seus pais chegarem, tá bem?
Eu assenti reconfortando-me em seu peito. Eu estava tão cansada que adormeci rapidamente. Acordei no dia seguinte. Tateei a cama. Jake havia ido embora deixando apenas um pequeno bilhete.
Nessie,
Eu espero que não acorde durante a noite. Gostaria de ter ficado com você, meu amor, mas sabe como é, seu pai não ia gostar des-sa ideia. Eu te amo muito e sei que sabe disso. Eu volto pela manhã. Sonhe comigo amor, pois eu sonharei com você.
Com todo o amor do universo,
Jacob.
‒ Eu também te amo – sussurrei toda boba para o bilhete.
‒ Eu sei – sussurrou ele em meu ouvido. Havia entrado no momento em que eu lia o bilhete.
‒ Jake... – eu suspirei enquanto ele se aproximava para me beijar. Ele me abraçou pela cintura e me tomou em um beijo fora de série.
‒ Posso interromper? – perguntou mamãe entrando no quarto.
‒ É claro – dissemos em coro. Senti minhas bochechas ficarem quentes.
‒ Bom dia, querida! Trouxe seu café da manhã – disse ela sorrindo.
‒ Bom dia mamãe! – eu disse sorrindo e correndo para abraçá-la.
‒ Parece que alguém está muito feliz esta manhã – disse mamãe.
‒ Senti sua falta, só isso – eu disse meio tristonha.
‒ Eu também senti a sua. Afinal de contas o que aconteceu? – perguntou ela.
Contei tudo a ela, envergonhada do que havia feito. Ela apenas deu um meio sorriso e tirou uma mecha de cabelo que caia sobre o meu rosto.
‒ Sabe que eu amo você demais, não sabe? – Disse mamãe.
‒ Mãe, você me amou desde o primeiro minuto! Desde que soube que eu viria ao mundo, e nunca desistiu de mim! Eu te amo mais que tudo mãe, mais que minha própria vida! Eu daria minha vida para salvar a sua, porque você deu a sua por mim – eu disse com lágrimas nos olhos.
‒ Ah, meu amor – disse ela ternamente me abraçando. Nem havia repa-rado que Jake havia saído para nos deixar conversando. Ela nos separou e continuou – Amo você para sempre, não importa o que aconteça, o que você faça. Eu sempre vou te amar.
‒ Obrigada mamãe – eu disse por fim.
‒ Me mostre o seu anel de noivado! – disse ela.
Eu limpei as lágrimas e dei um sorriso. Corri até minha bolsa e o recolo-quei no dedo.
‒ É lindo Nessie! Jake tem muito bom gosto. – Disse ela sorrindo. – Mi-nha menininha cresceu tão rápido! – disse ela rindo. Eu ri junto com ela. – Eu sei, eu sei, eu pareço uma boba dizendo isso, mas mães são bobas mes-mo. Você vai...
Ela se interrompeu rapidamente.
‒ Sabe que Alice vai surtar quando souber que você ia se casar sem que ela soubesse – disse ela rindo. Eu sabia o que ela ia dizer antes. Ia dizer que eu ia entender quando eu fosse mãe, mas segundo as perspectivas de vovô
Carlisle eu não podia ter filhos. Eu sabia disso e nem ligava mais, mas da-quela vez mexeu comigo.
‒ É, ela vai – eu disse sorrindo.
‒ Ela vai querer fazer do seu casamento o evento do século! – Ela riu al-to.
‒ Mas nós vamos esperar para nos casarmos. Ainda é cedo. Vamos nos organizar melhor e depois podemos começar a decidir os preparativos. – Eu disse.
‒ Você está certa. É melhor esperar mesmo, ainda é muito cedo pra tudo isso – disse-me ela com um sorriso.
‒ É – eu disse suspirando. ‒ Posso ir à reserva hoje à tarde? Acho que devo desculpas a Billy – eu disse, sentindo-me envergonhada.
‒ Tudo bem. Mas volte, por favor – disse ela brincalhona, mas mesmo assim dava para ver que ela estava falando sério.
‒ Eu voltarei – eu disse corando.
Ela me deixou em meu quarto, sozinha. Levantei-me e fui tomar um ba-nho. Eu ainda usava a mesma roupa do outro dia. Vesti um enorme sobretu-do,uma camiseta preta, calças de couro e botas pois fazia frio. Passei o que restava da manhã relendo alguns sonetos de Shakespere até o almoço. De-pois eu assisti a um filme, uma comédia musical que eu amava. Era quase três da tarde quando fui para a casa de Jake.
‒ Oi – disse ele limpando o óleo do carro que consertava em uma flanela.
‒ Oi – eu disse lhe dando um rápido beijo. – Billy está aí?
‒ Está lá dentro, por quê? - perguntou ele.
‒ Eu acho que lhe devo desculpas – eu disse. Jake assentiu e me levou para dentro.
Pedi desculpas a Billy apesar de ele dizer que era desnecessário. Passei o resto do dia observando Jake consertar um carro e conversando com ele. A noite já caia lá fora quando eu disse a ele que tinha de ir.
‒ Tudo bem, é melhor ir, já está tarde mesmo. Está de carro? – perguntou ele.
‒ Estou com o Aston Martin do meu pai – eu disse.
‒ O Vanquish? – Os olhos dele brilharam. Ele adorava aquele carro.
‒ Sim, o Vanquish – eu disse rindo.
Eu me despedi dele e fui embora. No meio da estrada uma figura negra apareceu e me fez frear bruscamente.
‒ Como vai a nossa tão querida Renesmee? – Ela disse meu nome como se fosse um insulto.
‒ Quem está aí? – Eu perguntei.
‒ Ora, sou eu, não se lembra de mim mais?
E meu pior pesadelo apareceu das sombras para minha frente em um se-gundo. Jane Volturi.
‒ Jane – eu arquejei.
‒ Viu, você se lembra! Muito bem garotinha – ele disse com um enorme sorriso malicioso no rosto.
‒ O que você quer aqui? – eu perguntei.
‒ Ora, nada demais. Meu mestre só quer ter o prazer de sua companhia e mandou-me aqui para buscá-la. Simples assim.
‒ Pois diga a ele que eu não posso ir. Que depois que eu conversar com minha família, poderemos marcar um encontro – eu disse temendo a pro-messa que acabara de fazer.
‒ Oh que feio! Tentando me enfrentar garotinha petulante?! – disse ela como se estivesse ralhando com uma criancinha. Jane tinha aparência de uma jovem de 15 ou 16 anos. Nada muito diferente de mim. Mas ela tinha muitos anos de idade vampira e poder o suficiente para me causar medo.
‒Vejo que não vai por bem. Ok – e com isso ela estalou os dedos e Felix apareceu logo atrás de mim. Ele me apertou os braços. Eu tentei me desven-cilhar de suas mãos e quase consegui. Mas o poder de Jane me alcançou. Eu comecei a me debater de dor. Uma dor tão aguda e horrível que eu jamais irei esquecer.
‒ Vamos Felix! Apague a pirralha e coloque-a no nosso carro! O nosso mestre não espera!
Quando ela disse isso, Felix colocou um lenço no meu rosto. Tentei não inalar, mas com a dor eu não consegui. Ficou tudo escuro de repente. Desmaiei.

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21.Volterra
Enquanto estava apagada eu tive sonhos estranhos. Sonhos não, pesade-los. Eu estava na “sala do trono” dos Volturi. Mas havia algo de errado na-quilo tudo. Meus pais e minha tia Alice estavam rodeando o trono do meio onde Aro estava sentado.
‒ Ora vejam só quem veio nos ver! Renesmee, minha cara, não me diga que veio se juntar a nós?
‒ Nunca! – respondi. Na verdade era como se eu visse uma imagem, pois não tinha controle sobre o que falava no sonho.
‒ Mas seus pais estão aqui. Sua tia tão querida também. O que mais te impede? - Perguntou ele.
‒ É por isso que vim, para tirá-los daqui. Liberte-os Aro! Liberte-os ago-ra!
‒ Quem disse que são meus prisioneiros? – Ele riu alto. ‒ Eles estão aqui porque querem Renesmee, não porque eu os obriguei. – Ele riu novamente e por incrível que pareça as três figuras riram com ele. Minha família! O que estava acontecendo?!
‒ É verdade? Mãe? Pai? Tia Alice? Como... Quer dizer... Por quê?! – Eu estava nervosa.
‒ Querida, - disse mamãe se aproximando, os olhos estranhamente ver-melhos - venha! Junte-se a nós! Juntos nós seremos incrivelmente fortes!
‒ Seremos invencíveis! – completou papai.
‒ O que... O que esta acontecendo aqui?! Isso não é possível! Não pode ser! Não! – eu gritei no sonho – Não! – acordei gritando.
‒ Tendo pesadelos Renesmee? – perguntou Jane, que estava sentada do outro lado da sala onde eu estava.
‒ Onde eu estou? – perguntei meio desnorteada.
‒ Volterra – anunciou ela. – Eu disse que meu mestre queria vê-la.
‒ Eu estou na Itália? Como foi que cheguei aqui? Quer dizer...
‒ Não há tempo para explicações. Você passou tempo demais desacorda-da. Tome esse vestido. Naquela porta há um banheiro. Troque-se e venha para que eu possa terminar de arrumá-la – ela disse a ultima parte com des-gosto.
Eu não discuti. Afinal de contas eu não ia conseguir sair de lá mesmo, então era melhor obedecer.
Era um belo vestido. Vermelho, de muito bom gosto. Vesti-o e saí do pequeno banheiro.
‒ Ótimo! Agora coloque os sapatos e venha até aqui Heidi vai arrumar seus cabelos – Jane disse naturalmente.
‒ Heidi? – engoli em seco.
‒ É claro, ela é especialista nessas coisas. – Ela parecia feliz em passar essa responsabilidade a outra pessoa.
Foi a pior experiência de todas. Se alguém tentasse imaginar não conse-guiria. Eu não conseguiria. Aquelas mãos frias lidando com o meu cabelo, aquele sorriso que me assombrava, aqueles olhos estranhamente violeta me encarando. Tortura.
‒ Pronto! – disse ela.
‒ Vá e avise que estamos indo – ordenou Jane.
‒ Sim, senhora Jane – disse ela sarcasticamente.
‒ Agora se levante – ordenou ela. Ela me observou por um segundo. – Perfeita. Agora vamos, Aro deseja vê-la.
Nós caminhamos lentamente pelo longo corredor. Ao final havia um enorme porta entalhada com vários arabescos. Ela se abriu com um estron-do. A sala era maravilhosa, enorme, imponente. Havia uma longa mesa on-de alguns vampiros estavam sentados.
‒ Renesmee! Está muito bonita! Venha, reservei um lugar especial pra você – disse Aro me puxando para o “lugar especial”.
Ele colocou sentada ao seu lado e fez sinal para que uma moça, vampira é claro, viesse servir as taças de metal. O cheiro de sangue inundou a sala fazendo minha garganta doer.
‒Beba – incentivou Aro. Eu olhei para a taça tentada a bebê-la.
‒ Não, obrigada. Eu não bebo sangue humano. – Eu disse firmemente.
‒ Renesmee, eu tenho uma proposta para fazer a você – disse ele fazendo sinal para que os outros saíssem da sala. Ficaram apenas eu, Jane, Alec, Felix, Caius, Marcus e Aro. Ele levantou-se e me fez ficar em pé.
‒ O que acha de juntar-se a nós? – Perguntou ele. – O que acha de se tor-nar poderosa? De se tornar uma Volturi? – Disse ele quase num sussuro. ‒ Você poderá mandar e desmandar em todos aqueles que desrespeitarem a lei! Terá um posto especial! Não será da guarda, será mais importante – continuou ele.
‒ Sinto muito, mas eu estou muito feliz em minha família Aro. Não pre-ciso de poder, estou bem só com a minha família – eu sussurrei.
‒ Ah, é uma pena! Desperdício até, – disse ele colocando a mão fria em meu pescoço - pois se não quer ficar conosco, não ficara com mais nin-guém! – rugiu ele levantando-me no ar.
Eu comecei a sufocar. Eu tentei tirar sua mão, mas comecei a me sentir cada vez mais fraca.
‒ Solte-a Aro! – Bradou meu pai adentrando a sala ao lado de minha fa-mília.
‒ Tudo bem – disse ele. E com isso ele me jogou no chão. Eu escorreguei e bati com a cabeça na pilastra. Minha visão ficou turva. Uma figura se aproximou de mim.
‒ Jake – eu tentei falar, mas acho que não passou de um ganido.
‒ Vou te tirar daqui Nessie. – Dito isso ele me colocou no colo.
Felix tentou fechar nossa saída.
‒ Deixe-os ir Aro! – Disse vovô Carlisle. Aro fez um sinal e Felix nos permitiu sair.
‒ Jake... Minha... Cabeça... – eu não consegui terminar a frase. Desmaiei.

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22. Hóspedes

Quando acordei estava deitada na calçada de uma rua estreita, deserta. Minha cabeça estava no colo de Jacob.
‒ Ai, graças a Deus, você acordou! – Disse Jake.
‒ O que... O que aconteceu? Porque estamos aqui?
– Você desmaiou enquanto saíamos da fortaleza dos Volturi, então te trouxe até aqui para que você acordasse em segurança, mas não podemos ficar expostos dessa forma. Alice nos espera em um hotel na cidade vizinha.
‒ Como vamos pra lá? – Perguntei.
‒ De táxi. Ele deve estar nos esperando na praça. Acha que consegue an-dar?
Na verdade eu me sentia muito bem. Nenhuma dor, nem tontura ou qual-quer outro sintoma que me impedisse de correr. Assenti.
‒ Vamos! – disse ele tomando minha mão.
Começamos a correr, mas meus sapatos eram um pouco altos demais pa-ra uma corrida.
‒ Espere – eu disse. Apoiei-me nele e arranquei os sapatos vermelhos. – Bem melhor – suspirei aliviada.
Corremos o mais rápido que conseguimos. Como Jacob havia dito, havia um táxi nos esperando no centro da praça principal da cidade. Levou cerca de meia hora até que chegássemos até a cidade vizinha. Descemos do taxi em frente a um hotel tipicamente italiano, de pedra, ao melhor estilo tosca-no.
‒Nessie, temos uma reserva aqui. Para todos os efeitos Alice nunca en-trou aqui e você e eu somos Jacob e Vanessa Wolf, um casal recém casado em lua de mel, e que está apenas de passagem para a festa de uma amigo. Entendido? – Perguntou Jake.
‒ Você pensou nisso tudo sozinho? – Perguntei.
‒ Alice pensou – explicou ele. – Eu apenas concordei.
‒ Tudo bem, então. Vamos entrar Senhor Wolf? – Eu lhe disse com um sorriso. A ideia de ter Jake como marido era engraçada.
Ele riu e tomou minha mão. Entramos.
‒ Buona notte! Come posso aiutare? – Disse o recepicionista. Jacob me olhou pedindo ajuda. Eu dei um risinho. Ele não entendera o que o homem dissera.
‒ Buona notte, mi chiamo Vanessa e questo è mio marito Jacob Wolf. Abbiamo una prenotazione qui. – Respondi naturalmente. Jacob me olhou como se perguntasse “Quantas línguas você pode falar?”, o que me fez rir, naturalmente.
O recepicionista do hotel foi muito gentil. Ele nos entregou a chave do nosso quarto e nos desejou uma boa estadia.
‒ Sabia que você fica linda quando fala italiano? – Disse Jake enquanto subíamos as escadas.
‒ Sabia que você fica muito fofo quando entra em pânico? – Eu disse rindo.
‒ Não é justo! Eu não sei falar todas as línguas do mundo como você – disse ele.
‒ Eu não sei falar tudo. Mandarim é muito complicado para mim.
‒ Mas você está aprendendo – retrucou ele.
Abri a porta do nosso quarto. Alice nos recebeu com abraços.
‒ Estava tão preocupada com vocês dois! Demoraram demais, o que aconteceu? – Perguntou Alice.
Jacob contou a Alice tudo que acontecera conosco. Enquanto isso eu fui até a varanda do quarto e fiquei observando a enorme lua no céu.
‒ É uma pena que não possamos ficar muito por aqui – disse Jake me abraçando por trás.
‒ Tem razão. Esse lugar é maravilhoso – eu disse com um suspiro. – Estou cansada. Acho que vou tirar uma soneca.
Jake me deu um beijo longo. Um daqueles beijos que você gostaria que durassem para sempre. Afastei nossos rostos.
‒ Obrigada por me salvar esta noite. Só queria que minha família estives-se aqui também. – Disse meio entristecida.
‒ Eu nunca te deixarei desprotegida, meu amor. E sobre a sua família, eles vão voltar. Eu sei que vão. – Ele disse isso como se assegurasse a si próprio que tinha razão. Me deu um beijo na testa e me levou para dentro.
Avisei tia Alie que iria descansar um pouco. Deitei-me na cama e adormeci.



23. Felicidade

Acordei com Jake me observando. Eu levei um susto – ele estava muito próximo do meu rosto, acariciando meu cabelo – e quase cai da cama, mas ele me segurou.




‒ Foi mal, não queria te assustar – disse ele.

‒ Tudo bem, eu estou bem – eu falei enquanto me sentava na cama. Jake se sentou ao meu lado e me abraçou. – Ainda não voltaram, não é?

‒ Ainda não Ness, mas eles vão voltar logo – prometeu ele.

‒ Por quanto tempo eu dormi?

‒Por uma hora, eu acho – respondeu ele.
Eu ia lhe perguntar se tia Alice tinha visto algo quando ouvi a porta se abrir e vozes ao fundo. Corri para a saleta onde tia Alie estava e senti como se meu coração derretesse. Minha família, inteira, intacta, sã e salva.
‒ Renesmee! – minha mãe correu e me abraçou.
‒ Ai, mãe, eu pensei... Quer dizer... Eu quase... – As frases não saiam porque eu começara a chorar em seus braços.
‒ Está tudo bem agora Nessie. Estamos bem agora, nada vai acontecer – ela me confortava, delicadamente me sentando no sofá ao seu lado.
‒Agora temos que voltar. Ficar muito tempo em território inimigo não faz bem pra ninguém – disse tio Jasper com um sorriso.
‒ Mas eu não acho que eu ficaria bem entrando em um avião com essa roupa – eu disse apontando para o meu vestido extremamente chamativo e vermelho.
‒ Já resolvi esse ponto – respondeu tia Alice saltitante com uma sacola enorme nas mãos.
Eu tive que admitir que o vestido que ela me trouxera era absolutamente maravilhoso. Ele tinha um delicado babadinho nas laterais, era curto e tinha estampa floral. Depois de vesti-lo e soltar os cabelos eu realmente me sentia bem melhor. Calcei as sapatilhas novas que tia Alie havia me trazido e saí-mos. Estranhamente não havia ninguém no saguão. Avisamos a um rapaz que chegava que estávamos indo embora e ele nos ajudou com o check out.
Mais tarde, já no aeroporto, tia Alice – com uma ajudinha do tio Jazz – conseguiu nossas passagens. O voo foi tranquilo, principalmente pelo fato de que eu estava com a minha família e abraçada com Jake, na primeira classe. Perfeitamente feliz.
‒ Você está usando o anel! – exclamou Jake em um sussurro. Eu olhei pra minha mão e notei que não tinham tirado o meu anel do dedo. Era o anel que Jake havia me dado como pedido de casamento.
‒ É claro, eu não o tiro mais do dedo. Eu olho pra ele e me lembro de você, só isso me faz não ter vontade de tirá-lo do dedo nunca mais.
Ele me deu um beijo e eu sorri para ele. Era bom saber que as coisas es-tavam bem entre nós dois, e também que minha família estava em seguran-ça. Eu o amava mais do que tudo, e agora eu tinha certeza disso. Não como uma garota se apaixona por um garoto e alguns meses depois já não tem mais certeza sobre seus sentimentos. Eu tinha certeza de que o meu lugar era ao lado dele. Eu tinha opções, como me disseram quando eu soube sobre o imprinting, mas eu não tinha porque não escolhê-lo. Ele sempre fora tudo para mim. Tudo que eu precisava, tudo que eu queria, ele sempre estava pronto para atender-me. Seria impossível não escolhê-lo.
‒ No que está pensando? – perguntou ele, tirando-me dos meus devanei-os.
‒ Que eu te amo – respondi quase sem pensar.
‒ Eu também te amo. Mais do que minha própria vida – ele tocou meu medalhão. Eu ri. Ele estava repetindo o que eu havia dito a ele quando me dei conta do quanto eu gostava dele.
Nós chegamos em casa com o dia quase amanhecendo. Entramos e nos reunimos na sala com normalmente fazíamos.
‒ Nós deveríamos ter mudado de lugar há algum tempo – comentou pa-pai.
‒ Não acho. Gosto daqui – respondi.
‒ Nessie tem razão. Nós nem vamos à cidade com frequência e agora Carlisle está trabalhando no hospital de Port Angeles. Não temos problemas por aqui – completou mamãe.
‒ Tudo bem, tudo bem. Vocês ganharam. Forks é um lugar legal - disse papai nos abraçando. – Mas sobre os problemas, eu não tenho certeza se vai continuar sendo assim.
‒ Nós estamos seguros por hora – completou vovô.
‒ Que tal mudarmos de assunto? – Sugeri. ‒ Eu sei que todos já sabem, mas eu gostaria fazer isso formalmente. Jake? Acho que está na hora.
Jake abriu um largo sorriso.
‒ Eu e Nessie estamos noivos – ele disse com entusiasmo. Na verdade eu esperava que ele dissesse que estávamos namorando, mas isso era bem me-lhor. E com um sorriso malicioso ele olhou para tia Rosalie – Prepare-se loira. Eu vou entrar para a família.
Eu não pude deixar de rir. Logo todos estavam rindo comigo. Eles nos deram parabéns e tia Alice começou a falar em festas e casamentos. Um clima descontraído pairava sobre a nossa família. Em certo momento Jake me puxou para fora de casa.
‒ Eu te amo – disse eu lhe abraçando.
‒ Eu também te amo – disse ele me dando um beijo.
‒ Me promete uma coisa Jake? – perguntei delicadamente.
‒ Claro. O que é?
‒ Promete que vamos ficar juntos para sempre? Que nunca vai me dei-xar, não importa o que aconteça? – perguntei. Ele sorriu.
‒ Eu prometo Nessie. Você e eu, juntos por toda a eternidade. – Ele me beijou docemente.
‒ Por toda a eternidade – repeti sorrindo.


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