6. Reações
Chegamos à sorveteria perto da casa do meu avô Charlie. Uma
chuva fina caía e por isso nos sentamos do lado de dentro. Todo mundo olhou
quando entramos, não conseguia entender o porquê. Depois de tomarmos os
sorvetes ficamos mais um tempo na sorveteria. Entramos no carro e no caminho
uma pergunta me ocorreu.
– Jake me promete uma coisa? – perguntei sorrateiramente.
– Depende do quê – disse ele em resposta.
– Primeiro diga que prometa – eu disse me fazendo de
inocente.
– Tudo bem, agora diga o que é – disse ele se fazendo de
impaciente.
– Sobre o que vocês estavam conversando hoje cedo?
– Ah! Isso eu não posso dizer – ele disse rindo nervoso.
– Mas você prometeu – insisti.
– Sim, mas antes eu prometi para o seu pai – disse ele dando
um fim na nossa conversa.
Chegamos à casa de Jake. Ele abriu as portas do carro e da
casa para mim. Sentei-me no sofá e logo em seguida ele se sentou também.
– Você sabia que sua tia esta planejando uma festa de
aniversário pra você? – perguntou ele. Estava claramente arranjando um assunto
qualquer para me distrair.
– Ela sempre faz, mas meu aniversário ainda vai demorar a
chegar – eu disse. Meus aniversários nunca foram normais. Eu tinha duas festas
de aniversário por ano. Uma menor, apenas representativa, e outra na data real
do meu aniversário. No meu primeiro ano, eu cresci o equivalente a uma criança
de quatro anos e por essa razão minha tia fez questão de comemorar três
“aniversários de crescimento”, como ela chamava, e o “aniversário oficial” que
era o aniversário de verdade. No segundo ano foram dois aniversários de
crescimento além do aniversário oficial e como dali em diante eu passei a avançar
dois anos em um, por causa da desaceleração do meu crescimento, eu passei a comemorar
apenas um aniversário de crescimento juntamente com o aniversário oficial.
– Nessie seu aniversário é no final de semana – disse Jacob
– Hoje é quinta-feira, dia oito de setembro. Seu aniversário é sábado dia dez.
– M-mas como? Quer dizer, pensei que ainda estivéssemos em
agosto – eu disse contando mentalmente quantos dias eu havia deixado passar
desde a última vez que consultei o calendário.
– É passou muito rápido. Eu sei – disse ele pensativo – É
muito cedo para desejar um feliz aniversário de seis anos? – ele abriu um largo
sorriso.
– Dezesseis – eu o corrigi. Não gostava quando as pessoas só
contavam os aniversários oficiais. Eu me sentia uma criança quando eu já era
uma adolescente física e mentalmente.
– Tudo bem, tudo bem – disse ele rindo alto.
Franzi o cenho para ele. Ele parou de rir quando viu minha
expressão, mas seu rosto ainda carregava um lindo sorriso.
Ele aproximou seu rosto do meu e sussurrou em meu ouvido – E
depois você ainda diz que é adolescente. Seu comportamento não condiz com o de
uma – sua voz provocou estranhos calafrios em minha coluna.
– Engraçadinho – eu disse ainda meio atordoada com aquelas
estranhas reações. Ele riu alto novamente. Já não parecíamos os mesmos Jake e
Nessie de um ou dois meses atrás. Havia alguma coisa de diferente, algo novo,
desconhecido por mim até então. Balancei a cabeça como se isso a livrasse
daqueles pensamentos atordoantes. Todos aqueles segredos e reações estavam me
deixando maluca. Um longo período de silêncio se passou.
– Está tudo bem? – perguntou ele preocupado, mas com um ar
brincalhão.
– Está. Será que pode me levar para casa?
– Por quê? Eu fiz alguma coisa de errado? Se eu te ofendi...
– Não é nada disso. Eu só quero ir para casa e descansar um
pouco – eu disse tocando o seu rosto com delicadeza. Ele fechou os olhos quando
eu fiz isso. Sorri e ele também sorriu.
Chegamos ao chalé. Como de costume meus pais estavam na casa
principal.
– Posso ficar aqui com você se quiser – disse Jake.
– Tudo bem – sabia que na verdade ele ficaria mesmo se eu
dissesse que não.
Ele se sentou no sofá e eu me sentei ao seu lado encostando
minha cabeça em seu ombro. Ele pôs o braço em volta de mim e ficamos ali
assistindo a um seriado até que peguei no sono.
Acordei na minha cama, a noite chegando à minha janela. Ao
meu lado havia um pequeno bilhete de Jake. Abri.
Nessie,
Eu
queria ter ficado, mas a matilha precisou de mim.
A
gente se fala depois. Vou sentir sua falta.
Jacob.
“Vou sentir sua falta”. Aquela frase mexeu comigo. Talvez
porque eu também sentiria a falta dele. O que quer que estivesse acontecendo
estava, com certeza, acabando comigo.
Levantei-me e fui tomar um banho. Eu não precisava de
banhos, mas a água do chuveiro me acalmava. Vesti um jeans, uma camiseta
vermelha e sapatilhas de mesma cor. Logo depois eu me dirigi para casa
principal.
– Nessie! Que bom te ver minha linda! – disse tia Rose.
– É bom te ver mesmo – disse tia Alice – precisava saber se
a roupa que preparei para você ia servir – ela começou a me puxar escada acima.
Chegando ao quarto de Alice, ela me colocou de frente para
um manequim que estava coberto ‒ Voilà! – disse ela em francês enquanto puxava
o tecido que cobria o manequim. O vestido era lindo. Era azul escuro, tinha uma
saia volumosa de tule, um corpete todo bordado de pedras, com alças largas e
com alguns detalhes em veludo. Tinha um lindo decote nas costas além, é claro,
do decote frontal em coração.
– É perfeito – eu disse e ela abriu um sorriso de
satisfação.
– Que bom que gostou!
– É demais tia! Obrigada.
Tia Alie me fez provar o vestido enquanto ela o ajustava e
isso levou um bom tempo. Depois, desci as escadas e fiquei assistindo TV com
meus pais até que peguei no sono e como de costume, eles me levaram para casa.
O dia seguinte seria longo.
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