domingo, 17 de junho de 2012


8. Revelação

– Nessie, precisamos ter uma conversa muito séria com você – começou meu pai.

– É algo muito importante e queremos que preste atenção – continuou mamãe.

Assenti.

– Nós já contamos pra você sobre a gestação de sua mãe e sobre o seu nascimento, mas ainda há uma coisa a contar – papai estava sério.

– Nessie – minha mãe suspirou – o que vou contar é algo sobre os lobos – ela deu uma longa pausa e depois continuou – existe uma coisa, algo muito peculiar nos lobos como Jacob. E essa coisa chama-se imprinting.

“O imprinting é algo muito difícil de ser descrito. É algo como amor a primeira vista, quase devoção. É como se a pessoa por quem o lobo sofre imprinting o prendesse ao chão, como a gravidade para ele. Como se fosse o próprio centro da Terra, entende? É como se tudo girasse em torno do objeto do imprinting. Ele vai ser qualquer coisa, fazer qualquer coisa que a pessoa por quem ele sofreu imprinting precise. Um irmão mais velho, um amigo, um protetor e se a outra parte aceitar...

– Se tornarão parceiros – completou meu pai meio amargo.

– Com parceiros você quer dizer... – eu disse meio confusa.

– Namorados, marido e mulher... – minha mãe disse cuidadosamente como se explicasse algo para uma criança pequena.

Meu pai pigarreou – mas não precisa ser assim se a pessoa não quiser ‒ parecia que ele não estava gostando nada daquilo.

– Mas o que eu tenho a ver com isso? – ainda estava muito confusa.

– Lembra-se daquela vez em que eu ataquei Jacob, quando você era bem pequena? - perguntou ela. Mostrei a ela a lembrança – sim, essa vez. Eu estava brigando com Jacob porque ele havia sofrido imprinting... por você.

– P-por m-mim? – gaguejei. Agora fazia todo sentido. Aqueles segredos, reações, desaparecimentos, meias respostas... Tudo porque eu era o objeto de imprinting de Jacob – é claro – sussurrei para mim mesma.

– É, por você – disse ela. Agora eu estava realmente confusa.

Fiquei um tempo em silêncio.

– Será que vocês poderiam me deixar sozinha. Eu preciso absorver tudo isso – pedi baixinho, pensativa.

– Claro filha. – disse meu pai – Boa noite.

– Boa noite, meu anjo – minha mãe disse me dando um beijo na cabeça.

Deitei-me sem sono. Fiquei rolando na cama, até que adormeci. O mesmo sonho da noite passada inundou minha mente. A campina, as flores silvestres, eu e Jake. E ao invés de fugir do sonho, deixei que minha mente me mostrasse o que eu não queria ver. Os nossos rostos, meu e de Jacob, se aproximando até que os lábios se tocaram, movendo-se em sincronia. Seu rosto se afastou um pouco do meu.

Ele começou a sussurrar – Eu te...

Trim, trim, triiim. O telefone interrompeu meu sono.

– Alô – eu disse meio sonolenta.

– Nessie, sou eu Jake – disse ele meio nervoso – te acordei?

– Não – menti melhorando a voz.

– Eu preciso falar com você. Agora – disse ele.

– Tu-tudo bem – gaguejei.

– Eu vejo você daqui a uns dez minutos, na campina, pode ser? – perguntou ele.

– Aham – assenti.

Corri para o meu guarda roupa. Vesti um jeans claro, uma camisa branca, um cardigan cinza, minhas sapatilhas vermelhas e coloquei o meu medalhão e o colar que Jake havia me dado.

Corri para a campina. Ele já estava lá me esperando.

– Oi ‒ disse tímida.

– Oi – disse ele com um suspiro. E depois de uma longa pausa disse – Eu imagino que a essa altura já saiba de tudo.

Assenti.

– E o que você acha? De tudo isso eu quero dizer – perguntou ele inseguro.

– Eu ainda não sei o que dizer – eu estava nervosa – quer dizer, eu não sei o que está acontecendo comigo. Você era meu melhor amigo até ontem. É tudo muito novo pra mim. Não sei o que dizer, nem o que pensar. Eu preciso de um tempo.

– Tudo bem. Pra quem esperou seis anos, alguns dias não podem matar, não é? – disse ele sorrindo, provavelmente tentando quebrar o gelo.

Sorri sem graça de volta. Mordi o lábio – É – disse eu – Eu vou indo então.

 E acabei, por instinto, fugindo antes que ele falasse mais alguma coisa. Corri o mais rápido que pude. Cheguei em casa, tranquei a porta e comecei a chorar sentada, encostada na porta. Não sabia bem porque eu estava chorando, mas estava.

Alguém bateu na porta. Era minha mãe. Abri a porta.

– Nessie, você está bem meu amor? O que aconteceu? – perguntou ela quando viu que estava chorando.

– Ah, mãe... Eu não sei o que está acontecendo... Só sei que está me angustiando. Muito – eu disse voltando a chorar em seus braços.

– Nessie, por acaso essa angustia toda tem a ver com coração palpitante, borboletas no estômago, tontura, dificuldade para respirar e algumas outras sensações? – perguntou minha mãe dando um risinho.

– Virou médica agora? – disse sendo sarcástica – desculpe-me – suspirei - é isso mesmo mãe. O que é isso, mãe? – perguntei aos soluços – que sensação estranha, às vezes tão maravilhosa e às vezes tão horrível.

– Isso se chama amor – minha mãe sussurrou como se contasse um segredo.

– Amor? – perguntei.

– É meu bem, amor. O sentimento mais bonito do mundo e também o mais horrível, como você disse.

– Você está dizendo que eu amo Jacob? – perguntei incrédula.

– É o que parece – disse ela convencida.

Afastei-me dela e fui até o meu quarto. Era isso que eu estava tentando dizer a mim mesma esse tempo todo? Eu amava Jacob? Eu amava Jacob, é claro – é claro! – gritei.

Saí correndo da casa, passando pela minha mãe e voltando para a campina, mas ele não estava mais lá. Comecei a correr na direção em que seu cheiro seguia, rastreando-o.

– Jake! Jacob! – eu gritava. Não adiantava. E quando vi estava perdida em meio à floresta. Angustiada e sem saber o que fazer, comecei a correr mais rápido, procurando uma saída até que tropecei em uma raiz e caí.

Machucada, desorientada, com medo, encostei-me a uma pedra e comecei a chorar.

Foi depois de alguns minutos, que eu ouvi um barulho, mas não ergui a cabeça por medo. Senti uma baforada quente em cima de mim. Olhei para cima e o lobo castanho avermelhado me encarava com a cabeça de lado como se quisesse me perguntar algo.

– Jacob! Ah, Jake! – disse abraçando o grande lobo.

Ele se afastou de mim e quando eu tentei segui-lo ele me fez voltar. Eu não entendi direito no começo, mas depois que ele voltou na forma humana eu consegui entender que era porque ele fora se transformar.

– Nessie! O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa? – perguntava ele enquanto se sentava e me puxava para seu colo de forma protetora – Renesmee me conte o que aconteceu, por favor – pediu ele angustiado quando viu que eu tinha voltado a chorar. Só que dessa vez eu chorava de alegria, alegria por vê-lo ali.

Respirei fundo e comecei – eu saí de casa pra te encontrar só que eu acabei me perdendo, caí, e como estava desesperada comecei a chorar, até que você apareceu – tagarelei sorridente.

– Ufa! E você ainda sorri – suspirou ele – que bom que é só isso – disse ele aliviado.

– E você pensou que fosse o quê? – disse rindo. Estava bem mais bem humorada.

– Sei lá. Mas... Por que você estava me procurando? – perguntou ele sorrindo. Eu podia ver a esperança em seus olhos.

– É que eu precisava te dizer uma coisa – disse corando, tímida de repente.

– Diga então – disse ele incentivando-me.

– Eu acho que descobri o que está me fazendo tão confusa – eu disse num sussurro, como uma criança que vai contar um segredo a um amigo.

– E o que é? – sussurrou ele de volta, o rosto se aproximando do meu.

Coloquei a mão em seu rosto, e ao mesmo tempo em que eu mostrei as minhas emoções eu sussurrei – eu descobri que te amo – suspirei ‒ Eu te amo Jacob Black, mais do que minha própria vida – toquei o meu medalhão que continha uma inscrição em francês que dizia o mesmo que eu havia dito. Mais do que minha própria vida.

– Eu também te amo Nessie – ele sussurrou ele em meu ouvido - e preciso de você mais do que preciso do ar para respirar – continuou ele, o rosto mais próximo do meu – é por isso que eu nunca tive ninguém, porque você é e sempre será a única para mim ‒ percebi que ele estava respondendo a pergunta que eu fizera há um tempo atrás. Aquela era a hora certa e eu sabia disso agora.

E como no meu sonho nossos lábios se encontraram, movendo-se em sincronia. Era muito melhor do que no sonho, a batida do meu coração de pássaro era quase um uníssono, o ar era insuficiente para que eu respirasse, seu toque quente em meu rosto era demasiado para que eu suportasse. Era como se minha alegria estivesse transbordando de mim. E não era somente o meu coração que palpitava. O coração de Jacob parecia que ia sair voando, a respiração acelerada que precisamos nos separar para tomar um ar. E logo em seguida seus lábios voltaram para os meus.

Eu separei nossos rostos mais uma vez, os olhos ainda fechados, as cabeças unidas. Nós estávamos ofegantes.

– E agora? – perguntei enquanto tentava recuperar o ar – o que eu vou dizer aos meus pais?

– Você quer contar a eles que é minha namorada agora ou prefere esperar um pouco? - perguntou ele igualmente sem ar.

– E eu sou isso mesmo? Sua namorada? – perguntei brincando.

– Só se você quiser – disse ele brincalhão.

– Eu quero – eu disse corando de satisfação.

– Era só o que eu precisava ouvir - disse ele nos pondo em pé e me tomando em um abraço – então, quer ir contar pro velho Billy que o filho dele arranjou uma namorada, meu amor? – “meu amor”. Era tão bom ouvir aquilo.

– Com certeza – eu disse lhe dando um beijo.

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