8. Revelação
– Nessie, precisamos ter uma conversa muito séria com você –
começou meu pai.
– É algo muito importante e queremos que preste atenção –
continuou mamãe.
Assenti.
– Nós já contamos pra você sobre a gestação de sua mãe e sobre
o seu nascimento, mas ainda há uma coisa a contar – papai estava sério.
– Nessie – minha mãe suspirou – o que vou contar é algo
sobre os lobos – ela deu uma longa pausa e depois continuou – existe uma coisa,
algo muito peculiar nos lobos como Jacob. E essa coisa chama-se imprinting.
“O imprinting é algo muito difícil de ser descrito. É algo
como amor a primeira vista, quase devoção. É como se a pessoa por quem o lobo
sofre imprinting o prendesse ao chão, como a gravidade para ele. Como se fosse
o próprio centro da Terra, entende? É como se tudo girasse em torno do objeto
do imprinting. Ele vai ser qualquer coisa, fazer qualquer coisa que a pessoa
por quem ele sofreu imprinting precise. Um irmão mais velho, um amigo, um
protetor e se a outra parte aceitar...
– Se tornarão parceiros – completou meu pai meio amargo.
– Com parceiros você quer dizer... – eu disse meio confusa.
– Namorados, marido e mulher... – minha mãe disse
cuidadosamente como se explicasse algo para uma criança pequena.
Meu pai pigarreou – mas não precisa ser assim se a pessoa
não quiser ‒ parecia que ele não estava gostando nada daquilo.
– Mas o que eu tenho a ver com isso? – ainda estava muito
confusa.
– Lembra-se daquela vez em que eu ataquei Jacob, quando você
era bem pequena? - perguntou ela. Mostrei a ela a lembrança – sim, essa vez. Eu
estava brigando com Jacob porque ele havia sofrido imprinting... por você.
– P-por m-mim? – gaguejei. Agora fazia todo sentido. Aqueles
segredos, reações, desaparecimentos, meias respostas... Tudo porque eu era o
objeto de imprinting de Jacob – é claro – sussurrei para mim mesma.
– É, por você – disse ela. Agora eu estava realmente
confusa.
Fiquei um tempo em silêncio.
– Será que vocês poderiam me deixar sozinha. Eu preciso
absorver tudo isso – pedi baixinho, pensativa.
– Claro filha. – disse meu pai – Boa noite.
– Boa noite, meu anjo – minha mãe disse me dando um beijo na
cabeça.
Deitei-me sem sono. Fiquei rolando na cama, até que
adormeci. O mesmo sonho da noite passada inundou minha mente. A campina, as
flores silvestres, eu e Jake. E ao invés de fugir do sonho, deixei que minha
mente me mostrasse o que eu não queria ver. Os nossos rostos, meu e de Jacob,
se aproximando até que os lábios se tocaram, movendo-se em sincronia. Seu rosto
se afastou um pouco do meu.
Ele começou a sussurrar – Eu te...
Trim, trim, triiim. O
telefone interrompeu meu sono.
– Alô – eu disse meio sonolenta.
– Nessie, sou eu Jake – disse ele meio nervoso – te acordei?
– Não – menti melhorando a voz.
– Eu preciso falar com você. Agora – disse ele.
– Tu-tudo bem – gaguejei.
– Eu vejo você daqui a uns dez minutos, na campina, pode
ser? – perguntou ele.
– Aham – assenti.
Corri para o meu guarda roupa. Vesti um jeans claro, uma
camisa branca, um cardigan cinza, minhas sapatilhas vermelhas e coloquei o meu
medalhão e o colar que Jake havia me dado.
Corri para a campina. Ele já estava lá me esperando.
– Oi ‒ disse tímida.
– Oi – disse ele com um suspiro. E depois de uma longa pausa
disse – Eu imagino que a essa altura já saiba de tudo.
Assenti.
– E o que você acha? De tudo isso eu quero dizer – perguntou
ele inseguro.
– Eu ainda não sei o que dizer – eu estava nervosa – quer
dizer, eu não sei o que está acontecendo comigo. Você era meu melhor amigo até
ontem. É tudo muito novo pra mim. Não sei o que dizer, nem o que pensar. Eu
preciso de um tempo.
– Tudo bem. Pra quem esperou seis anos, alguns dias não
podem matar, não é? – disse ele sorrindo, provavelmente tentando quebrar o
gelo.
Sorri sem graça de volta. Mordi o lábio – É – disse eu – Eu
vou indo então.
E acabei, por
instinto, fugindo antes que ele falasse mais alguma coisa. Corri o mais rápido
que pude. Cheguei em casa, tranquei a porta e comecei a chorar sentada, encostada
na porta. Não sabia bem porque eu estava chorando, mas estava.
Alguém bateu na porta. Era minha mãe. Abri a porta.
– Nessie, você está bem meu amor? O que aconteceu? –
perguntou ela quando viu que estava chorando.
– Ah, mãe... Eu não sei o que está acontecendo... Só sei que
está me angustiando. Muito – eu disse voltando a chorar em seus braços.
– Nessie, por acaso essa angustia toda tem a ver com coração
palpitante, borboletas no estômago, tontura, dificuldade para respirar e algumas
outras sensações? – perguntou minha mãe dando um risinho.
– Virou médica agora? – disse sendo sarcástica – desculpe-me
– suspirei - é isso mesmo mãe. O que é isso, mãe? – perguntei aos soluços – que
sensação estranha, às vezes tão maravilhosa e às vezes tão horrível.
– Isso se chama amor – minha mãe sussurrou como se contasse
um segredo.
– Amor? – perguntei.
– É meu bem, amor. O sentimento mais bonito do mundo e
também o mais horrível, como você disse.
– Você está dizendo que eu amo Jacob? – perguntei incrédula.
– É o que parece – disse ela convencida.
Afastei-me dela e fui até o meu quarto. Era isso que eu
estava tentando dizer a mim mesma esse tempo todo? Eu amava Jacob? Eu amava
Jacob, é claro – é claro! – gritei.
Saí correndo da casa, passando pela minha mãe e voltando
para a campina, mas ele não estava mais lá. Comecei a correr na direção em que
seu cheiro seguia, rastreando-o.
– Jake! Jacob! – eu gritava. Não adiantava. E quando vi
estava perdida em meio à floresta. Angustiada e sem saber o que fazer, comecei
a correr mais rápido, procurando uma saída até que tropecei em uma raiz e caí.
Machucada, desorientada, com medo, encostei-me a uma pedra e
comecei a chorar.
Foi depois de alguns minutos, que eu ouvi um barulho, mas
não ergui a cabeça por medo. Senti uma baforada quente em cima de mim. Olhei
para cima e o lobo castanho avermelhado me encarava com a cabeça de lado como
se quisesse me perguntar algo.
– Jacob! Ah, Jake! – disse abraçando o grande lobo.
Ele se afastou de mim e quando eu tentei segui-lo ele me fez
voltar. Eu não entendi direito no começo, mas depois que ele voltou na forma
humana eu consegui entender que era porque ele fora se transformar.
– Nessie! O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa? –
perguntava ele enquanto se sentava e me puxava para seu colo de forma protetora
– Renesmee me conte o que aconteceu, por favor – pediu ele angustiado quando
viu que eu tinha voltado a chorar. Só que dessa vez eu chorava de alegria,
alegria por vê-lo ali.
Respirei fundo e comecei – eu saí de casa pra te encontrar
só que eu acabei me perdendo, caí, e como estava desesperada comecei a chorar,
até que você apareceu – tagarelei sorridente.
– Ufa! E você ainda sorri – suspirou ele – que bom que é só
isso – disse ele aliviado.
– E você pensou que fosse o quê? – disse rindo. Estava bem
mais bem humorada.
– Sei lá. Mas... Por que você estava me procurando? –
perguntou ele sorrindo. Eu podia ver a esperança em seus olhos.
– É que eu precisava te dizer uma coisa – disse corando,
tímida de repente.
– Diga então – disse ele incentivando-me.
– Eu acho que descobri o que está me fazendo tão confusa –
eu disse num sussurro, como uma criança que vai contar um segredo a um amigo.
– E o que é? – sussurrou ele de volta, o rosto se
aproximando do meu.
Coloquei a mão em seu rosto, e ao mesmo tempo em que eu
mostrei as minhas emoções eu sussurrei – eu descobri que te amo – suspirei ‒ Eu
te amo Jacob Black, mais do que minha própria vida – toquei o meu medalhão que
continha uma inscrição em francês que dizia o mesmo que eu havia dito. Mais do
que minha própria vida.
– Eu também te amo Nessie – ele sussurrou ele em meu ouvido
- e preciso de você mais do que preciso do ar para respirar – continuou ele, o
rosto mais próximo do meu – é por isso que eu nunca tive ninguém, porque você é
e sempre será a única para mim ‒ percebi que ele estava respondendo a pergunta
que eu fizera há um tempo atrás. Aquela era
a hora certa e eu sabia disso agora.
E como no meu sonho nossos lábios se encontraram, movendo-se
em sincronia. Era muito melhor do que no sonho, a batida do meu coração de
pássaro era quase um uníssono, o ar era insuficiente para que eu respirasse, seu
toque quente em meu rosto era demasiado para que eu suportasse. Era como se
minha alegria estivesse transbordando de mim. E não era somente o meu coração
que palpitava. O coração de Jacob parecia que ia sair voando, a respiração
acelerada que precisamos nos separar para tomar um ar. E logo em seguida seus
lábios voltaram para os meus.
Eu separei nossos rostos mais uma vez, os olhos ainda
fechados, as cabeças unidas. Nós estávamos ofegantes.
– E agora? – perguntei enquanto tentava recuperar o ar – o
que eu vou dizer aos meus pais?
– Você quer contar a eles que é minha namorada agora ou
prefere esperar um pouco? - perguntou ele igualmente sem ar.
– E eu sou isso mesmo? Sua namorada? – perguntei brincando.
– Só se você quiser – disse ele brincalhão.
– Eu quero – eu disse corando de satisfação.
– Era só o que eu precisava ouvir - disse ele nos pondo em
pé e me tomando em um abraço – então, quer ir contar pro velho Billy que o
filho dele arranjou uma namorada, meu amor? – “meu amor”. Era tão bom ouvir
aquilo.
– Com certeza – eu disse lhe dando um beijo.
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