10. Surpresas
Eu estava dormindo tranquila quando um baque surdo me
acordou. Corri para a sala.
– Jake, Jake, acorda! – sussurrei desesperada.
– Que foi Nessie? – perguntou ele sonolento.
– Você não ouviu?
– Ouvi o que? – ele ainda estava confuso.
– Não sei bem o que foi, mas foi um som alto e... – fui
interrompida pelo barulho de novo e depois consegui ouvir que havia uma
discussão. Prestei mais atenção e consegui ouvir melhor. Meu pai estava na
reserva e isso estava causando uma grande discussão lá fora.
– Nessie, seu...
– É eu sei! Ai, meu Deus! O que eu vou fazer?! O que ele vai
fazer?! – eu dizia desesperada andando de um lado para o outro.
– Calma. Eu vou lá fora e dou um jeito de resolver – disse
Jacob – você fica aqui – ordenou ele.
Eu apenas assenti sentando-me no sofá, nervosa.
Alguns minutos se passaram até que meu pai e Jacob entraram
na casa, meu pai na frente quase quebrando a porta e Jake depois, tentando
acalmá-lo.
– Levante-se – ordenou meu pai se segurando para não gritar
– vamos para casa.
– Espera – eu disse antes que ele passasse pela porta – eu
vou embora com uma condição – eu parecia firme.
– E qual é essa condição? – perguntou ele sério.
– Que não crie mais problemas com relação a Jacob e a mim –
respondi decidida.
– Renesmee... – disse ele ficando irritado.
– Ou é isso ou eu não volto mais pra casa – eu disse antes
que ele começasse a argumentar.
Ele bufou – vamos pra casa. Agora – ordenou ele.
– Não. Não pode me obrigar. Prometa que vai fazer o que eu
pedi antes – eu disse.
– Tudo bem – disse ele bem baixinho.
– Ótimo – eu disse ‒ a gente se vê depois Jake – eu disse
lhe dando um beijo rápido.
Caminhamos em silêncio até o carro. A viagem foi igualmente
silenciosa. Meu pai parou em frente à casa principal. Ele abriu a porta do
carro para mim como de costume e nós entramos em casa. Estavam todos
preocupados, mas não era comigo.
– O que aconteceu mãe? – perguntei. Ela parecia tensa.
– Renée ligou. Ela está vindo – disse ela assustada. Eu já
havia ouvido sobre a minha avó e ela já viera uma vez quando eu era pequena,
mas na época meus pais se esconderam comigo, porque vovó Renée não podia saber
sobre mim nem sobre a transformação de mamãe – ela vem me ver. Eu disse que
estava doente e que era melhor ela não vir, mas ela insistiu e disse que chega
dentro de uma semana. Edward o que vamos fazer? – ela parecia angustiada.
‒ Eu quero conhecê-la – eu disse. Já fazia um tempo desde
que tomara aquela decisão. Fora na tarde em que ela viera pela primeira vez. Eu
disse pra mim mesma que da próxima vez eu tinha que conhecê-la e ninguém ia me
impedir.
‒ Não podemos deixar que a conheça – disse papai.
‒ Porque não? – eu não ia desistir só porque ele queria – Eu
tenho o direito de conhecer a minha avó.
‒ Edward, filho, eu acho que Nessie tem razão. Bella tem que
mostrar Nessie para a mãe – disse vovô.
‒ Por favor, pai – eu pedi. Fez-se um momento de silêncio.
‒ Tudo bem – ele disse por fim.
Depois daquela decisão todos começamos a discutir como iriam
me apresentar. A primeira opção era contar a mesma mentira que havíamos contado
para Charlie, mas eu e mamãe achamos que era injusto e que ela iria descobrir
assim como vovô havia descoberto, então decidimos pela segunda opção: dizer a
verdade. Ia ser difícil, é verdade e ela não poderia dizer nada a ninguém muito
menos a Phil, seu marido, mas tinha de ser assim.
Fomos para casa à noitinha. Papai colocou um filme e nós
três ficamos assistindo, claramente uma tentativa de me fazer esquecer um pouco
toda aquela bagunça.
Depois de algum tempo eu comecei a ficar sonolenta e meu pai
me colocou na cama. Eu tinha trocado de roupa durante o dia, mas não tinha a
mínima vontade de colocar o pijama novamente.
‒ Nós vamos até a casa de seus avós pra terminar de resolver
as coisas, tudo bem? - sussurrou ele antes de sair. Eu balancei a cabeça em
resposta. Estava com muito sono para responder qualquer outra coisa.
Depois de um tempo que eles saíram, eu ouvi um som que vinha
da minha janela. Virei-me e resmunguei para o nada, sonolenta. Novamente ouvi o
som e uma voz murmurando algo com “Nessie, abra a janela”. Irritada e com sono,
caminhei até a janela, abri as cortinas e a janela me apoiando no divã que fica
na frente dela. Jacob, como eu suspeitava, entrou e se sentou ao meu lado.
‒ O que faz aqui? Eu estava dormindo - resmunguei.
‒ Eu vim ver se você estava bem. Pensei que talvez seu pai
tivesse te posto de castigo ou algo assim – murmurou ele de volta.
Eu apenas assenti, recostando-me em seu ombro. Minhas
pálpebras pareciam pesar uma tonelada. Acho que acabei adormecendo, porque ele
começou a me chacoalhar e a chamar pelo meu nome.
‒ O que é? – perguntei desnorteada.
‒ Eu estava falando com você – disse ele.
‒ E o que você estava falando?
‒ Eu dizia que eu me preocupo com você – ele não terminou. Aproximou-se
mais do meu rosto, sua respiração desconcertando-me.
‒ Por quê?– eu disse tentando parecer coerente com uma
pergunta incoerente.
‒ Porque eu te amo – sussurrou ele. Seu hálito quente fazendo-me
perder a razão.
Ele me beijou. Sua mão que sustentava as minhas costas
passou para minha cintura nos desequilibrando. Ele caiu por cima de mim e nós
começamos a rir do nosso desequilíbrio. Mas para a nossa total falta de sorte,
minha mãe havia voltado para casa e irrompeu pela porta.
‒ Renesmee você... Jacob! O que faz aqui?! – gritou ele
espantada – No quarto da minha filha e ainda por cima... Ai, meu Deus! – ela
falava desesperadamente.
‒ Mãe, mãe me escuta, não é...
‒ O que eu estou pensando? – completou ela – não é mesmo?
‒ Jacob é melhor você ir embora – eu sussurrei para ele.
‒ Tudo bem – respondeu ele. Ele se aproximou para me beijar,
mas eu desviei o rosto – agora não – pedi a ele e ele assentiu. E ao invés de
sair pela porta como minha mãe apontava, ele resolveu sair pela janela.
Fiquei olhando ele entrar na floresta, quando a mão fria da
minha mãe tocou meu ombro.
‒ Não tem nada a dizer? – perguntou ela.
‒ Nós não estávamos fazendo nada, eu juro – eu disse pegando
a sua mão e mostrando a ela o que havia acontecido.
‒ Eu acredito em você, mas, como mãe, acho que não posso
deixar que as visitas noturnas se tornem frequentes. Entende? – disse ela dando
um sorriso terno.
‒ Mãe, ele só veio ver se eu tinha ficado de castigo – eu
disse. Ela me olhava descrente.
‒ Tudo bem. Agora volte a dormir – ela beijou minha cabeça –
pelo menos fui eu quem encontrou Jacob e não seu pai – ela tinha razão. Se
fosse meu pai, eu nunca mais veria Jacob. Estremeci com a ideia.
Não foi difícil dormir. Eu estava exausta a ponto de ter uma
noite sem sonhos, mas acho que havia ido dormir muito cedo, pois acordei antes
do nascer do sol. Levantei-me e fui até o meu closet, um pequeno anexo que tia
Alice praticamente obrigou vovó Esme a fazer no meu quarto, pois para ela o
guarda-roupa era insuficiente. Pelo menos mamãe a controlou ou então eu teria
um closet enorme como o dela. Ri disso enquanto procurava algo para vestir.
Acabei com uma camisa azul marinho de mangas ¾, um jeans cinza e sapatilhas
pretas. Coloquei o medalhão e o colar do lobo que agora andavam juntos, e penteei
o cabelo, prendendo dois cachos para liberar o meu rosto.
Eu ainda ria das minhas lembranças quando saí do closet e
dei de cara com a minha mãe.
– Ele está aí, me pediu desculpas e agora quer te ver –
disse ela sorrindo. Sabia que ela falava de Jake. Respirei fundo.
– Peça para ele entrar – eu disse casualmente.
‒ Acho melhor você ir até a sala para vê-lo – disse ela um
pouco desconfortável.
‒ Tudo bem – eu disse cada palavra declaradamente, meio confusa.
Caminhamos em silêncio até a sala onde Jacob me esperava, em
pé mesmo. Ele veio até mim e acariciou meu rosto – Tudo bem, meu amor? ‒
sussurrou. Ele se aproximou do meu rosto para me beijar, mas desviei o rosto
assentindo.
‒ Vamos conversar lá fora – eu disse um pouco sem graça.
‒ Tudo bem ‒ disse ele confuso.
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